
A polêmica da hora é a popularização do chamado “bebê reborn”. Trata-se de uma boneca realista, geralmente de vinil ou silicone, que é cuidadosamente criada para imitar a aparência de um recém-nascido. O nome “reborn” vem do processo de “renascimento”, onde a boneca é transformada por artesãos que adicionam detalhes, como veias, rugas, cabelo e até manchas de nascença.
Proliferam nas redes sociais vídeos de pessoas, tendo no colo o “bebê”, em busca de atendimento médicos na fila do caixa preferencial do supermercado. Garantir a veracidade de qualquer conteúdo postado nas redes é altamente temerário. Se já era arriscado antes, o que dizer agora, através do uso de inteligência artificial, onde vozes, trejeitos e personagens podem ser manipulados a ponto de parecerem verídicos.
Noto a reação hostil, quase furiosa, de muita gente diante desta nova tendência de comportamento. Confesso que a princípio reação semelhante, mas me dei conta que muitas vezes um novo hábito choca, mas aos poucos vai sendo incorporado ao cotidiano.
Todos os fins de semana frequento a Praça da Encol, em Porto Alegre. É um ponto de grande atração de pessoas. É uma área dotada de muito verde, quadras esportivas, praça para a gurizada, espaço para atividades físicas e um cachorródromo. A presença de cães, de todas as raças, idades e tamanhos, é um fenômeno onipresente, não importa o tamanho da cidade.
O ser humano prefere ofender ao
invés de trocar ideias e argumentos
Neste meu périplo semanal é muito comum ouvir frases como “Vem com a mamãe”, “Vamos passear, filhinho?”, “Cuidado, bebê, pra não te machucar”. São afirmações de seres humanos dirigidas a cachorros – machos e fêmeas, de raça e até mesmo vira-latas.
Fazendo uma comparação simplória com os bebês reborn, jamais assisti a reações furiosas dirigidas às pessoas que tratam de maneira carinhosa – quase humana – seus pets. O hábito de manter mascotes – cães, gatos, iguanas, pássaros e até cobras não peçonhentas – dentro de casa foi gradativamente sendo assimilado socialmente. Talvez o mesmo aconteça com os bonecos de borracha que viralizaram.
A nova moda, que ganhou notoriedade através das redes sociais, suscita debates acalorados. Se multiplicam teses sobre o emburrecimento das pessoas, da falta de empatia entre seres humanos e não raro citam-se dados sobre crianças abandonadas, maltratadas ou entregues à própria sorte.
Como tudo atualmente no Brasil, a radicalização é norma de comportamento. Perdemos a capacidade
de discordar. Só se vê ofensas no lugar de argumentos.
Talvez fosse mais útil cada um olhar para dentro de si e analisar o seu próprio comportamento.

