
Eu conheci a pacata Estação – cidade localizada ao norte de nosso Estado – em meus dias de repórter. Tranquila, típico lugar onde todos se conhecem e quando chega um estrangeiro, feito eu – à época – o recebem cordialmente, sem a desconfiança que já vivi em outras regiões. Muito chimarrão filei naqueles dias. Portanto, quando ouvi a notícia de que um agressor de 16 anos entrara em uma escola municipal, com duas facas para golpear três estudantes e uma professora, imaginei que não poderia ser a mesma Estação daqueles dias. O que está acontecendo com o ser humano?
Em dias de redes sociais a todo vapor, medidas em velozes decibéis milliwatts, o mal pega carona no wi-fi de quem o busca. O mal-intencionado pode estar em sua poltrona, na grande metrópole ou isolado nos mais recônditos locais. Ensina, em detalhes horripilantes, lições de como gerar pânico e sangue para, num dia qualquer, aquele jovem tímido, considerado pacífico, tirar a máscara da serenidade para se transformar em agente do terror.
Confesso que ando meio paranoico. Na semana passada, no ônibus que me levava ao Centro Histórico de Porto Alegre, entrou um sujeito muito simpático, conversando com todos, fazendo gracinhas e eu, em crise de insegurança imaginei: “Será um psicopata mutilador de idosos?” E aí o passageiro, sentado a meu lado, cumprimentou o tal engraçadinho e perguntou: “Não lembra dele? É um comediante de stand-up on-line. Eu o acompanho no Instagram”.
Aí me dei conta que tudo tem seus dois ou mais lados. Fico aqui torcendo para que os que representam o bem sigam em maioria. E que tenhamos mais atenção, olhos e agentes fiscalizadores aos de personalidade doentia que, muitas vezes saem de lares tranquilos, de gente boa mas, em seu âmago, permitem que o inferno – ou qualquer coisa parecida – lhes consuma e os leva a práticas como as que vimos por aqui, ou em muitas outras cidades tranquilas de todo o planeta.

