Um flagrante inusitado chamou a atenção do leitor Elton Gehlen, quando circulava pelo interior de Arroio do Meio na noite de sábado, dia 12 de julho. Cerca de dez capivaras foram avistadas atravessando a estrada, em grupo, nas proximidades da entrada do Morro Gaúcho, por volta das 19h30min. O registro foi feito pelo representante comercial, que é morador da comunidade de Arroio Grande. Segundo ele, os animais pareceram não se incomodar com a presença do veículo e da luz. “Isso não é comum por aqui, foi uma surpresa. Quando eu estava a uma certa distância percebi alguma coisa atravessando a rua e quando vi, eram capivaras”, comenta.
As imagens mostram os animais se deslocando em fila, com tranquilidade, em meio à paisagem noturna. Os roedores em bando confirmam a expansão do habitat para áreas próximas à zona rural, algo que tem se tornado cada vez mais comum em diversas regiões do Estado.
ESPÉCIE SOCIÁVEL E ADAPTÁVEL
De acordo com o biólogo e diretor técnico do Animália Park, na cidade de Cotia, em São Paulo, Marco Majolo, a capivara é um animal nativo da fauna brasileira, protegido por lei e amplamente distribuído em todo o território nacional, além de estar presente em outros países da América do Sul, como a Argentina. Segundo ele, o avistamento desses animais no interior pode estar diretamente ligado às recentes enchentes e mudanças nos habitats naturais.
“A destruição dos habitats naturais, em virtude das enchentes que atingiram a região, faz com que esses animais migrem em busca de locais mais seguros. Elas se adaptam com facilidade e não têm dificuldade em se instalar em novos ambientes, desde que próximos a cursos d’água”, explica Majolo.
O especialista destaca que a capivara é o maior roedor do mundo, podendo chegar a 90 quilos, e pertence à mesma família das pacas, cutias e preás. São animais sociáveis, vivem em grupo e têm uma reprodução rápida, o que contribui para seu crescimento populacional em certas regiões.
“Aqui mesmo em São Paulo, o rio Tietê é habitado por dezenas de capivaras. Ao longo da marginal, você as vê todos os dias. Isso porque são extremamente adaptáveis e, como muitos animais, têm se aproximado dos centros urbanos pela destruição de seus ambientes naturais” ressalta.
RISCOS E CUIDADOS NECESSÁRIOS
Apesar de serem animais pacíficos, o biólogo alerta para alguns cuidados necessários. As capivaras podem hospedar o carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. Mesmo assim, reforça que o respeito à natureza e o distanciamento dos animais devem ser priorizados.
“As pessoas precisam aprender a conviver com esses animais. Eles fazem parte do nosso ecossistema, têm papel importante no equilíbrio ambiental e não são perigosos. Mas é essencial manter distância, especialmente quando estiverem com filhotes ou no período reprodutivo, quando podem se mostrar mais defensivos”, orienta.
APRENDIZADO E HARMONIA
Majolo reforça que o aparecimento das capivaras deve ser visto como uma oportunidade de aprendizado e de reconexão com a natureza. Em casos de superpopulação, ele afirma que podem ser estudadas medidas de controle populacional, mas não acredita que seja o caso em Arroio do Meio.
“Elas são animais importantes, fazem parte do ciclo biológico de várias espécies. E são, inclusive, a sensação do momento. A mídia tem feito diversas matérias sobre elas, justamente por esse aspecto curioso e carismático. Mas o mais importante é que a população entenda que conviver em harmonia com a fauna silvestre é um desafio necessário e urgente, especialmente nas regiões de maior vegetação e proximidade com a natureza “, finaliza.
