
Quantos pequenos comerciantes perderam tudo, ou quase no período de cheias, em 2024? Meu vizinho, o Fred, trabalha com vestuário na região carbonífera e, a cada tromba d’água, olha para o céu com aflição. Assistiu seus estoques flutuarem no rio Jacuí em direção a quase falência. Nessa primeira quinzena de julho, os dias andaram mesclando sol com ameaças de chuva. “Seria muito natural em outros tempos, mas não posso mais confiar nas previsões”, reclama ele, irritado com a força desigual da Mãe Natureza.
O que restou dos estoques estava na casa da noiva, em uma área não atingida pelas intempéries. Ele passou a oferecer seus produtos a partir dali. Mandava mensagens para amigos com ofertas e se deu bem. “Paguei as contas do mês e ainda sobrou um pouco para a reforma da lojinha”, me conta. E, a partir daí, está decidido a criar estoques para vendas on-line. Mas reconhece que artigos como roupas e tecidos, não são tão simples como o comércio de eletrodomésticos, por exemplo.
Assim, aos poucos, pensa seriamente em levar sua loja para um outro espaço, mais protegido e, ao mesmo tempo, criar uma linha especial de roupas esportivas que ele considera mais fácil de atrair clientes. “Assim, manterei as vendas pela internet. As agências dos correios estão bem servidas para esse novo momento”, me garante, ao se referir a uma nova plataforma, a “Mais Correios”, que cadastra empreendedores interessados no sistema de marketplace. “Eles querem concorrer com a Shopee”, afirma.
O resumo de tudo isso é o seguinte: desistir jamais! Buscar alternativas, criar novos produtos, virar a imaginação do avesso e achar uma comporta segura de mercado que possibilite uma vedação às cheias do fracasso. Esse é o novo caminho em um planeta notadamente em transformação. A Arca de Noé dos que buscam escapar dos novos dilúvios, os agora chamados “eventos climáticos extremos”.