
Você vai se interessar por um livro, se eu lhe disser que foi escrito por um tal de Paulo Cesar Fonseca do Nascimento?
E se souber que é o livro do Tinga, o atleta que fez sucesso no Grêmio e no Inter, cujo nome de batismo pouca gente conhece?
Pois é. O livro com o título ‘Chamando atenção da sorte”’conta a vida do Tinga até a idade dos 45 anos. Tinga é exatamente o apelido do Paulo Cesar Fonseca do Nascimento, que nasceu no bairro da Restinga, em Porto Alegre, e se tornou conhecido no futebol e fora do campo também. A história começou triste, mas é pra lá de bonita.
Tinga passou fome. Foi criado praticamente só pela mãe que era faxineira e aumentava a renda fazendo faxinas na madrugada, depois das festas em clube chique. O bom disso era que a mãe podia trazer para casa sobras da festa. Aí sim era uma festa… em casa.
Aos 13 anos, Tinga ficou sabendo que haveria testes para entrar no Inter – seu time do coração. Decidiu participar. Da Restinga até o Beira-Rio era uma hora e meia de viagem pingando no ônibus lotado. Não passou na peneira. Tentou mais duas vezes e só conheceu o fracasso. Ficou muito desanimado, pois familiares e amigos tinham se mobilizado alcançando dinheiro para o ônibus, emprestando chuteiras… Aos 15 anos, fez um teste no Grêmio e passou de cara. Ufa!
Aí a vida começou a mudar. Em parte, por ter sido convidado a morar no alojamento dos meninos do Grêmio. Nunca mais passou fome. A alimentação bem planejada possibilitou que ganhasse corpo e atingisse melhores condições físicas para jogar.
Depois disso, soube sempre aproveitar as chances que apareceram. Soube chamar a atenção da sorte… Jogou no Japão, jogou no Botafogo, jogou no Inter. Mas o que ele considera o equivalente a cursar uma Faculdade foi a estada na Alemanha, jogando no Borussia Dortmund. Conta que chegou lá aos 28 anos com uma cabeça, e saiu, aos 32, com outra. Aprendeu a valorizar características da cultura alemã: pontualidade, disciplina, eficiência, qualidade em todas as coisas e trabalho duro.
Tinga parou de jogar aos 37 anos, depois de uma lesão grave. Neste ponto, começava um outro capítulo na vida. E começava bem do começo. Ele só tinha cursado até a 5ª. série na escola e sabia que precisava completar os estudos. Tinha um pouco de vergonha de frequentar o Supletivo, mas rapidamente percebeu que aí estava a chance de exercitar a humildade e de crescer em novas direções.
Foi assim, pouco a pouco, que se firmou como empresário, palestrante e que se envolveu em obras de caráter social. Hoje, seu projeto ‘Fome de Aprender’ serve ao menos 200 refeições por dia na Restinga, além de oferecer aulas de reforço escolar e cursos de alfabetização direcionados a crianças e a moradores de rua.
Tinga optou por não entrar na porta larga das “facilidades” da periferia. Escolheu a porta estreita do trabalho e de rejeitar a crença de que não poderia vencer. Andar na linha foi a sua melhor escola. Partiu do princípio de agir certo, ver o lado positivo e ser curioso.
Ele sabe que para chamar a atenção da sorte é preciso que ela te encontre trabalhando.