
Já faz alguns anos que sou oficialmente aposentado depois de décadas de carteira assinada, mas nunca parei de trabalhar. Sou um chato assumido. Imagine ficar em casa 24 horas por dia. Em algumas semanas seria tragado pela depressão e profunda tristeza.
Apesar de não ter prejuízos, revolta a situação de descaso após a descoberta do escândalo do INSS. O crime, que resultou em bilhões de prejuízo a milhões de aposentados, envolveu descontos ilegais autorizados de forma fraudulenta por entidades conhecidas pelas autoridades.
O escândalo – mais um! – foi descoberto há quatro meses. O episódio é cercado de características inéditas que escandalizam, embora roubos, desvios, corrupção e impunidade sejam pautas diárias da imprensa.
Diferentemente de todas as operações anteriores da Polícia Federal não houve prisões. Se disse que entidades e dirigentes responsáveis pela fraude seriam investigadas. Em episódios semelhantes sempre ocorreram inúmeras prisões, muitas injustas. A justificativa era de que isso se fazia necessário para evitar a destruição de provas e a combinação de depoimentos para encobrir os crimes.
Acusados devolveram mais de R$ 50 bilhões. Terá sido por
benemerência ou consciência pesada pelo crime cometido?
Tento imaginar como se sente um idoso/idosa ganhando um salário mínimo de benefício e tendo descontos fraudulentos por anos seguidos. A revolta já seria enorme com a simples descoberta. Então, o que dizer da raiva ao constatar que são quatro meses de silêncio, apesar do INSS garantir que já devolveu cerca de R$ 1 bilhão.
O que foi feito para evitar novos desvios? Por que até hoje não houve divulgação e punição dos envolvidos? Uma das entidades, inclusive, tem como dirigente o irmão do presidente da república, o que aumenta o escândalo. A grande imprensa, tão vigilante em fiscalizar e julgar figuras públicas – principalmente políticos – silencia.
O Judiciário, através do onipresente Supremo Tribunal Federal (STF), se omite em época de tantas interferências indevidas no Executivo e Legislativo todos os dias.
Ser aposentados em um país injusto como o Brasil corresponde ao sofrimento eterno de uma vida difícil, revoltante que ofende a dignidade humana. Bilhões escorrem pelo ralo da impunidade no país que, através da Operação Lava-Jato, desvendou o maior escândalo de corrupção do mundo.
Mas, num “canetaço”, ministros do STF anularam as punições, embora os acusados tenham devolvido mais de R$ 50 bilhões aos cofres públicos. Terá sido por benemerência ou consciência pesada pelo crime cometido com o nosso dinheiro?