
Eu estava aqui pensando sobre o tarifaço norte-americano e minha mãe, em sua infinita sabedoria, aos 90 anos, me diz: “é disputa entre gente da mesma laia, independente de lado. Então, não fica aí criticando esse ou aquele”. Ela está certíssima. Na terça-feira, em Porto Alegre, vi um sujeito a defender um dos lados desse imbróglio com tamanha intensidade que, por pouco, não levou uma chamada do proprietário do restaurante onde eu tentava almoçar. Tudo nos divide. As coisas se transformam em barreiras de uma maneira tão forte que se torna difícil avaliar o entorno com lucidez.
Sensatez é a palavra a ser traduzida entre ambos os lados. Lucidez, cultura e respeito ao próximo. O ideal não é uma botija lacrada que precisa ser quebrada para liberar sua energia pacificadora e equilibrada. Os Beatles cantaram com sabedoria, “We Can Work Out” ou traduzido toscamente:: “Nós podemos dar um jeito. É isso ou dar boa noite e dormir no travesseiro dos problemas”. Iluminados, é claro, pela merencória (palavrinha esquisita, sô!), como escreveu Ary Barroso em sua “Aquarela do Brasil”.
A solução está no diálogo.
Mas gostamos de ser únicos e originais. Isso é bom… Mas para que exagerar? Vamos olhar para o que as pessoas pedem ou anseiam. E buscar equilíbrio e entendimento. Por exemplo, a palavra difícil – merencória – bem que poderia ser substituída pelo sinônimo, melancólica. Mas queremos impressionar, ser originais. A diferença é que, em uma canção, ou no comando de um país, as coisas precisam ser claras e compartilhadas com o aval da maioria.
Estou preocupado com o brasileiro que pode perder seu emprego e com o norte-americano que depende de alguns de nossos produtos. Afinal, se não fossem importantes, não sofreríamos sobretaxas. Mas isso, a ciência econômica e a política precisam resolver. Eu fico aqui, abraçado a minhas convicções e certo de que John Lennon estava absolutamente certo quando escreveu: “Você pode dizer que sou um sonhador, mas não o único. Espero que um dia você se junte a nós, e o mundo será um só”.