
Amanhecemos, semana passada, com a notícia da morte da cantora Preta Gil, precoce, aos 50 anos. Me entristeci. Meu coração ficou pequenininho. Parei para pensar por que essa notícia me impactou tanto.
Não conheço uma música sequer dela, sei pouco de sua vida pessoal, não sou sua parente, tampouco amiga íntima, mas a notícia me atordoou, me comoveu a ponto de ficar pensando toda a semana.
Talvez seja porque ela logo “abriu o jogo” acerca do que estava passando no campo da doença. Eu me sentia na sua casa, sabia de todo o tratamento e da evolução do câncer.
Ela era a porta voz de milhares de pessoas que passam por essa doença. Muitas vezes fiquei pensando o que uma pessoa passando por essa enfermidade enfrenta: os medos, as angústias, a ansiedade, a dor, entre outro turbilhão de sentimentos.
Superação era algo que sempre senti na artista e esse sentimento perpassa classe social, raça, cor, gênero. Desde o início, ela se superou e passou a ser a Preta e não somente a filha de um artista famoso, que dispensa apresentações.
Essa mulher representou coragem e força. Via nela a vontade de viver e, às vezes, diante de problemas que a doença trazia, não se conformava e fazia um post, um vídeo para dizer que estava firme e forte. Não se vitimizava. Eu pensava o quanto os meus problemas eram pequenos diante dos dela.
Perdemos uma representante da gordofobia; de se aceitar como se é; uma representante dos gays e lésbicas, ou seja, de assumir aquilo que nos faz felizes. Enfim, ela era do povo. E o povo é assim, todos diferentes. Por isso, de novo, tão próxima da gente.
Preta não se conformava com o óbvio, nem em relação à doença. Foi em busca da cura, que, infelizmente, não veio. Mais um filho de Gilberto Gil arrancado de sua vida. Desejamos a ele muita fé nesse momento que acomete a tantas famílias. Perder um ente querido, ainda mais por uma doença assim, não é fácil e nem nunca será.
Os anjos já estão em festa e o céu não será mais o mesmo, tamanha a energia que começara a ter lá a partir da assunção de Preta Gil.