
O tratado de Tordesilhas (1494) estabelecia que o território que hoje é o Rio Grande do Sul pertencia à Espanha, enquanto a Colônia do Sacramento, fundada por Portugal em 1680, ficava em território espanhol, na margem oposta do Rio da Prata.
Durante o primeiro século da colonização do Brasil, o Rio Grande do Sul era habitado por diferentes populações indígenas. Apenas em 1626 os padres espanhóis chegaram à região e fundaram as primeiras missões jesuíticas.
A Redução Jesus-Maria foi fundada em novembro de 1663, pelo jesuíta espanhol Padre Pedro Mola, no lugar hoje denominado Trincheiras, a cerca de 3,5 km da cidade de Candelária, nas proximidades do Morro Botucaraí, margem direita da estrada para Santa Maria.
A redução foi a que mais prosperou e a que maior número de indígenas congregou, numa população local entre seis e dez mil pessoas.
Dedicavam-se à agricultura, cultivando vários produtos (trigo, milho, mandioca, etc.) e possuíam grandes rebanhos de bovinos, suínos e ovinos, dos quais provinha toda a alimentação da redução
O Tratado de Madri, assinado por Portugal e Espanha, com o objetivo de estabelecer os limites definitivos entre as colônias dos dois países na América, importou na troca da Colônia do Sacramento pela região dos Sete Povos das Missões. A troca envolvia a transferência dos indígenas para outro território espanhol, o que causou resistência e conflitos, com a destruição das Reduções Jesuíticas, entre as quais a Jesus-Maria, sendo as trincheiras resquício material da árdua luta de resistência.
A ocupação do território por Portugal ocorreu através da concessão de sesmarias a pessoas que desejassem cultivá-las, entre as quais a Sesmaria de José Francisco da Silveira, entre o Arroio Molha Grande e o Arroio das Estivas.
As sesmarias foram um sistema de concessão de terras na América Portuguesa que desempenhou um papel importante na expansão territorial. Elas consistiam em lotes de terra distribuídos a indivíduos, com a obrigação de cultivá-los, visando a ocupação e exploração do território.
A Vila Germânia formou-se ao longo da estrada que ligava Rio Pardo aos Campos de Cima, entre o Cerro Botucaraí e o Rio Pardo, dentro da sesmaria, já com imigração germânica.
Com o crescimento da Vila, almejou-se torná-la município, com o apoio do coronel Pereira Rego, de Rio Pardo. Em 7 de julho de 1925 o presidente do Estado, Borges de Medeiros, assinou o decreto criando o município, nomeando Albino Lenz como primeiro intendente.
Entrevistado pelo jornal FOLHA DE CANDELÁRIA, edição de 6 de julho de 2007, seu filho Ruy Lenz, meu cunhado, que fez seus estudos no Colégio Marista São Luis, em Santa Cruz do Sul, assim narra os primeiros passos do novel município:
“Na sua primeira administração, meu pai procurou criar condições para a evolução do novo município. As primeiras ruas de Candelária surgiram de doações espontâneas dos habitantes, que eram, na sua maioria, donos de grandes propriedades. Como a prefeitura não tinha recursos, os próprios moradores alinhavam as ruas”, relata. Segundo Lenz, a cidade começou a se formar entre os dois arroios do município, o Laranjeiras e o Molha Grande. Ele ainda destacou a grande dificuldade de transportes entre Candelária e outros municípios. “A cidade era muito isolada no começo, não possuía pontes nos arroios. O acesso era somente pela estrada, atual Avenida Pereira Rêgo, que ligava Candelária à região centro serra”, explica.
“Lenz também lembra da bela arborização que as ruas da cidade possuíam, principalmente na década de 40. “As primeiras espécies de árvores foram os plátanos, após as ruas tiveram os cinamomos, ligustres e, atualmente, as tipuanas”, expõe. Rui destaca que o calçamento das ruas iniciou em meados da década de 60 na última administração de Albino Lenz. “As ruas começaram a ser calçadas em frente ao Clube Rio Branco e seguiram pela estrada (Av. Pereira Rego) até a descida onde cruzava o Arroio Laranjeiras e depois até a ponte do arroio Molha Grande. As demais ruas foram de acordo com o interesse dos moradores. A prefeitura sempre reunia os habitantes de determinada rua e perguntava quem queria o calçamento. Os moradores que queriam pagavam a obra para o lado de suas residências e a prefeitura entrava com a contrapartida com o calçamento do meio da via pública. Já os que não queriam, a prefeitura cobria e calçava igual toda a rua.”
“Ao chegar aos 82 anos, Rui Lenz (já falecido) via com otimismo e alegria a evolução de Candelária. “Mesmo sendo um município agrícola, Candelária está evoluindo muito. No seu início foi muito difícil a cidade crescer, faltou a industrialização que já existia nos grandes centros nas décadas de 50 e 60. Hoje vejo a expansão que o município está tendo, empresas de fora estão investindo aqui, o que atrai mais emprego e mais dinheiro circula na cidade. Fico feliz que a minha terra está caminhando no rumo certo, no rumo do progresso”, concluiu.”

