
Acabo de retornar de viagem à Ásia central. Nesta movimentação, percorri três países. Eles fizeram parte da chamada Rota da Seda, que foi uma rede de caminhos muito ativa entre o século II antes de Cristo até o século XV da nossa era.
A Rota da Seda conectou o Oriente e o Ocidente, facilitando não só o comércio da seda, mas também a aproximação de ideias, religiões e culturas muito diferentes.
O Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão – onde estive – ficavam no centro da Rota. Eram como encruzilhadas e, por isso mesmo, guardam muitos sinais do comércio das caravanas de mercadores. Conservam, por exemplo, o costume de vender tudo em mercados de rua, desde carnes a frutas e legumes, especiarias, tecidos, utensílios, às vezes também animais vivos. Ali se podem suprir as necessidades cotidianas por preços bem baixos e ali também se pode regatear, exercitando outro antigo costume.
Um ingrediente que aumenta a curiosidade em relação a esses países é que eles fizeram parte da União Soviética durante quase todo o século XX. Desde a independência, nos anos 90, vêm se afastando do modelo socialista e das velhas tradições. Cada país faz isso de jeito próprio. Há quem esteja mais próximo do estilo ocidental, há quem prefira conservar costumes tradicionais. Este é o caso do Quirguistão, que mantém as estátuas de líderes soviéticos em praças públicas, como testemunhas de um passado que preferem não ignorar. Sem falar que a crença muçulmana da maioria admite costumes estranhos para nós, como a possibilidade de um homem ter mais de uma esposa, por exemplo.
O fato de esses países terem feito parte da Rota da Seda e, depois, terem vivido a experiência socialista sob a batuta da Rússia, parecem dados suficientes para despertar curiosidade. Mas quando digo por onde andei, em geral encontro um olhar de dúvida, como que perguntando se não tinha nada mais interessante para visitar…
O caso é que viajo para conhecer lugares e jeitos de viver. Me interesso pelo Tajiquistão como me interesso por Jericoacoara no Nordeste brasileiro, ou por Canhada Funda, no interior de Pouso Novo. Cada lugar, ao seu modo, representa uma versão das infinitas possibilidades que os seres humanos arranjam para a sua existência.
Conhecer a diversidade ajuda a derreter certezas. Poucas coisas são definitivas. Em geral, as coisas estão de um jeito e tudo sempre pode ser diferente. Viagens como as que faço ajudam a entender que os outros não tem de pensar e agir como nós. Não são nossos inimigos, só por adotarem padrões diferentes. Isso, aliás, se aplica tanto aos povos como às pessoas que nos rodeiam e às convicções em geral… o modelo da gente é apenas uma das alternativas.
Fácil de falar, difícil de fazer – bem sei.
Mas o fato é que, na nossa vida hoje, sair da manada e definir um modo pessoal de viver já é suficientemente trabalhoso. Não se chega a isso por acaso. É preciso comparar e refletir o tempo todo.
Quando chegamos a definir as escolhas que nos servem, cabe deixar os outros em paz para fazer as suas próprias…