
“Brutal” é o título da coletânea de 26 contos que uma escritora aqui da região, a Manuela Lisot, lançou em livro há dois anos. A leitura seria rápida, não fosse tão… tão brutal.
Os contos desse livro são histórias de violência que mulheres sofrem, tais como humilhação, indiferença, brutalidade e que as levam, nos contos da Manuela, a uma reação também brutal. A vítima acumulou raiva durante muito tempo e agora ocorre uma explosão. A mulher encontra um jeito de se vingar. É como se o sofrimento engolido virasse de repente um vulcão. O ódio sai descontrolado e a vítima esfaqueia, envenena, arremessa objetos, desfere golpes, mata.
Para tornar a cena ainda mais impactante, muitas vezes o tempo da narração coincide com o tempo do acontecimento. Ou seja, a história é contada como se fosse em tempo real, como se acompanhasse as ações ao vivo.
Talvez a leitura do livro da Manuela Lisot não me impressionasse tanto, se a fizesse em outro momento. Agora, com notícias quase diárias de violência doméstica, o efeito da obra ganha proporção. Sucede que as histórias são ficcionais, mas a violência referida é absolutamente real e cotidiana. Autoridades relatam a diminuição de crimes comuns, mas o que não reflui é a violência contra a mulher.
Não bastassem tantos fatos conhecidos, vem esse agora, envolvendo destacado advogado de Porto Alegre, professor universitário inclusive. Até o momento, já apareceram treze mulheres fazendo denúncia de comportamento abusivo, com características semelhantes. O acusado, Conrado Paulino da Rosa, já se encontra preso preventivamente e já foi demitido da ESMP, onde lecionava. A reação rápida contra o acusado é um bom sinal de novos tempos e pode encorajar, daqui para frente, uma reação mais rápida das vítimas.
Crimes de violência sexual são muito difíceis de enfrentar. E por vários motivos.
Não é raro que a vítima veja a culpa recair sobre ela mesma. Não são poucos os casos de sofrer sanções e represálias, além de toda a desvalorização social que acompanha a exposição de relações íntimas – quando se referem às mulheres.
Está generalizada a ideia de que o homem que assedia age assim motivado pelo encorajamento da companheira, seja pelos trajes que ela veste, seja por uma aquiescência inicial. A mulher mesma pode se perguntar se não teria incentivado o avanço de que é vítima.
De tudo isso brotam perguntas:
O que fazer para livrar os meninos da ideia de que a força deles comanda?
Como fazer para ensinar que não é não, mesmo se tivesse havido um sim antes?
Como encorajar as virtudes do respeito e da harmonia na nossa sociedade?

