Natural da comunidade de Picada Arroio do Meio, o jovem Djones Loch, de 33 anos, transformou um sonho de infância em profissão. Hoje é comandante de aeronaves Airbus A320 e A321 em uma das maiores companhias aéreas do país e vive em Indaiatuba, São Paulo, onde já trabalha há quase 11 anos.
A paixão pela aviação começou ainda na adolescência. “Gostava muito de ler livros e revistas sobre aviação. Costumava passar horas no simulador de voo que tinha no computador de casa, sonhando com o que hoje é minha realidade”, relembra. O interesse, que nasceu de forma despretensiosa, cresceu junto com o desejo de viajar e conhecer novos lugares — algo que, segundo ele, pode ter vindo de uma inspiração familiar. “Meu tio era motorista de ônibus, sempre gostei dessa ideia de levar pessoas para outros lugares.”
Apesar de não ter ninguém da família na aviação, Loch trilhou o próprio caminho. Estudou no Aeroclube de Santa Cruz do Sul, no Aeroclube de Eldorado do Sul e concluiu o curso superior em Ciências Aeronáuticas pela PUC-RS. “Ao longo da minha trajetória conheci excelentes profissionais, que hoje são grandes inspirações para mim”, destaca.
A carreira exigiu mudanças e coragem. Depois de concluir o Ensino Médio na Escola Guararapes, mudou-se para Porto Alegre para estudar e, logo em seguida, para o interior de São Paulo, onde fixou residência e construiu sua trajetória profissional.
EMOÇÕES MARCANTES
Entre as experiências mais emocionantes da profissão, o profissional guarda na memória alguns momentos especiais. “Uma delas foi pousar em Porto Alegre como comandante. Por muitas vezes estive no Aeroporto Salgado Filho observando as aeronaves e sonhando em comandar uma delas. Outra experiência emocionante foi, recentemente, em um voo proveniente de Montevidéu, quando consegui sobrevoar Arroio do Meio. Foi muito especial para mim”, recorda com carinho.
Com anos de experiência, Loch já acumula carimbos de diferentes partes do mundo. “No Brasil conheço praticamente todos os estados. Já operei em aeroportos menores como Uruguaiana, Santo Ângelo e Pelotas, além de grandes aeroportos como Guarulhos e Congonhas (SP), Santos Dumont e Galeão (RJ). No exterior, já operei em locais como a Cidade do México, Orlando e Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, e Paris, Bruxelas e Lisboa na Europa.”
O comandante explica que o voo de Bruxelas (Bélgica) até Guarulhos (São Paulo) foi o mais longo já operado por ele, com mais de 12 horas de voo e quase 10.000 km percorridos.
SEGURANÇA ACIMA DE TUDO
Apesar das tragédias que marcam a memória coletiva, Djones lembra que a aviação é extremamente segura. “Um acidente aéreo nunca decorre de uma causa isolada, é uma sequência de eventos e condições latentes. A aviação é uma atividade de risco, mas altamente gerenciável, para que fique dentro de níveis aceitáveis”, ressalta. E quando o assunto é medo, a resposta do comandante é firme. “O medo geralmente está associado ao desconhecido. Eu trabalho com isso, conheço os processos e confio neles. Temos treinamento em simulador a cada seis meses, passamos por rigorosas avaliações para garantir que tudo funcione como deve ser. Uma vez que tudo é executado conforme a legislação e o fabricante prevê, a atividade é segura.”
NO COMANDO DOS GIGANTES
Ao longo da carreira, o rapaz já teve a oportunidade de comandar aeronaves de diferentes portes. “Tive a oportunidade de voar por um ano como copiloto do Airbus A350-900, atualmente um dos aviões mais modernos do mundo. Ele tem 64,5 metros de envergadura, 66,6 metros de comprimento e um peso máximo de decolagem de 275 mil quilos.”
Os desafios existem, sobretudo no Brasil. “Os maiores desafios das empresas de aviação hoje são sobreviver a alta carga tributária, ao custo do combustível e à desvalorização cambial. No lado pessoal, com certeza, o maior desafio é o tempo longe da família”, afirma. Mas as recompensas compensam. “O melhor, sem dúvida, é conhecer diversos lugares e culturas, e ser remunerado por isso.”
Entre o menino de Arroio do Meio que sonhava com os aviões no Aeroporto Salgado Filho e o comandante que hoje cruza os céus do mundo, existe uma trajetória de esforço, coragem e paixão. Uma história que inspira e mostra que os sonhos podem, sim, decolar.
CURIOSIDADES DA AVIAÇÃO
Um dado curioso é que as aeronaves, diferente do que muitos pensam, não têm um ‘prazo de validade’. “Uma aeronave com manutenções em dia pode voar indefinidamente. Mas, à medida que envelhece, tende a apresentar um custo de operação mais alto, manutenção cara, peças escassas e motores mais antigos que consomem mais combustível e produzem maior ruído. As manutenções, aliás, vão desde simples trocas de óleo e pneus até revisões completas, onde grande parte dos componentes do avião é desmontada em busca de falhas”, reforça o jovem.