
Meus dias de juventude foram marcados não apenas pela música revolucionária dos Beatles, Stones ou a Tropicália mas, também, por muita atitude. A começar pelos cabelos longos da gurizada. Era uma batalha diária em casa, nas escolas e no trabalho. O estilo topete dos astros do cinema, tipo Tony Curtis, Alain Delon, entre outros, passava a ser considerado “quadrado”, ou seja, fora de moda, ultrapassado. E muitos a ironizar nossas franjas como coisa de “mulherzinha”. Agora percebo um movimento contrário no padrão de corte para as mulheres. As longas madeixas consideradas espelhos da feminilidade, passam a ser, literalmente, tesouradas.
Leio na mídia impressa do centro do país que, cada vez mais, as mulheres estão aderindo ao cabelo curto não apenas por estilo, “mas como uma expressão de liberdade, autoconfiança e elegância moderna”. Minha mãe sempre usou cabelos curtos por achar mais prático, especialmente na rotina de uma dona de casa. Ou seja, é quase uma precursora desta nova moda, junto a outra jovem da época, a modelo Twiggy que usava cabelos bem curtos e se mantinha com muita personalidade nas passarelas dos grandes costureiros. Aliás, precursora das modelos magérrimas.
Até um beauty specialist – sim existe esse profissional nos dias atuais – foi ouvido e praticamente repetiu as palavras de minha mãe. Segundo ele, cortar o cabelo curto é um gesto de autoconfiança e autenticidade. Um símbolo de uma feminilidade contemporânea, elegante e livre de padrões.
Por enquanto ainda vejo muitas famosas com longas tranças, como Jennifer Lopez, Ivete Sangalo, Naomi Campbell, Beyoncé e Rihanna. Eu também sei que, em algumas culturas, o cabelo abaixo dos ombros tem a ver com crenças religiosas, ou símbolos de força e beleza. E respeito todas as vertentes. Mas já percebi outras tantas com cabelos quase tosados feito Giovanna Ewbank, Deborah Secco, Halle Berry, Jennifer Lawrence e Winona Ryder. Lindas e muito femininas.
O bacana de tudo isso é que as pressões de antigamente no modo de se apresentar socialmente, hoje são menores. Alguns tabus deixam de existir ou perdem força. Sejam longos, ou curtos, os cabelos não definem o caráter de uma pessoa. Talvez revelem um esforço de mostrar autenticidade, ao alinhar a aparência externa com a busca interna por identidade. A mulher contemporânea entende que feminilidade está na atitude, e não no comprimento do cabelo. E nós as admiramos em seu desfile diário nas agitadas passarelas urbanas.

