
“Prefiro ter paz a ter razão”.
A frase, que à primeira vista poderia soar budista, deveria ser transformada em tema para um decreto federal a vigorar em todo o Brasil. A intolerância há muito tempo deixou o contexto político para ganhar as ruas país afora, espalhando-se em todos os segmentos de convivência social.
A proximidade com o final do ano é agravante garantida de que este ambiente hostil só tende a se exacerbar. As pessoas, a maioria sem paciência ao longo do ano, funcionam numa espécie de “piloto automático” com a chegada do Natal, das comemorações do Ano Novo e do período de férias.
O trânsito é um termômetro perfeito para aferir o IPP, Índice de Paciência por Pessoa. A sinfonia de buzinas nas ruas deste Rio Grande gaudério diz muito de nosso temperamento ansioso, agressivo e pouco afeito a gentilezas ao volante.
Ao andar pelas congestionadas avenidas de Porto Alegre costumo comentar com os motoristas do Uber que os condutores imaginam que ao meter a mão na buzina acontecerá um fenômeno semelhante ao que Moisés protagonizou no Mar Vermelho. Eles sonham que o estridente ruído automotivo tenha o condão de abrir o oceano de veículos para que o tonitruante motorista desfile lépido e fagueiro. Sem obstáculos.
Apesar das repetidas tentativas, o tão esperado resultado jamais acontece. Mas, como muitos pensam que tudo depende de energia e insistência, a legião de impacientes motorizados passa o dia com a mão afundada na buzina. Haja paciência.
Que tal a gente apostar na paciência e na
benevolência, afinal, o Natal se aproxima
As filas de supermercados, e os respectivos estacionamentos, compõem outro ambiente ideal para auferir a irritabilidade das pessoas. Mesmo sem grande movimento na loja, basta um pequeno gesto fora do script para que os consumidores explodam numa onda de irritação intensa.
Mesmo dentro do ambiente familiar, que deveria fomentar e estimular princípios e valores, nota-se uma desarmonia e falta de interesse dos pais na criação dos filhos. Lembro-me do nascimento de Laura, minha primogênita que, como todo primeiro filho, é uma espécie de sobrevivente de um teste drive forjado a partir de inúmeros palpites. De amigos, parentes, vizinhos e de outros pais.
Combinei com a mãe da Laura que, mesmo diante da contrariedade do conselho dado por um ou outro, jamais iríamos contestar a decisão do outro. Não é um exercício fácil, mas serve para uniformizar procedimentos e evitar que a gurizada explore as diferenças do casal para impor suas vontades. Algo onipresente nos dias de hoje.
Impaciência, irritação e enfurecimento causam danos à saúde e à pele. Em véspera de Natal – e consequente período de perdão – que tal um pouco de paciência, calma e complacência, heim?

