
Arroio do Meio completa hoje 91 anos de emancipação político-administrativa. Além de comemorar, o momento é de reflexão diante dos fenômenos climáticos que castigaram a nossa terra há um ano e meio. Sim, temos muito a festejar, mas os desafios da reconstrução tiram o sono, incomodam, geram intranquilidade e impõe como fazer diferente para enfrentar um futuro desafiador.
Hoje à noite, como ponto culminante das comemorações, teremos uma vasta programação que será desenvolvida na Rua de Eventos. Haverá a escolha da corte das soberanas do município, show musical e o acendimento da iluminação de Natal. “Temo pouco a comemorar” pensarão alguns, com sobradas razões. Mas a proximidade do Natal sugere desarmar espíritos, buscar o entendimento e juntar forças para recomeçar.
Meu sentimento transpassa o ingênuo sentimento de bairrismo. Com mais de seis décadas de vida, tive o privilégio de percorrer a grande maioria dos municípios do Rio Grande do Sul. Temos virtudes únicas, uma gente ordeira onde o vandalismo é pouco visto, ao contrário da maioria das comunidades médias e grandes.
Através de uma corrente positiva podemos reconstruir
nossa terra para melhor acolher as gerações que virão
Temos problemas antigos e outros surgidos a partir do crescimento populacional e das consequências das enchentes inclementes que nos castigaram. Ao contrário de muitos, considero as críticas salutares. Repensar o município com novas diretrizes é cansativo, desafiador e exige paciência, tolerância e capacidade de conviver com aqueles que pensam de maneira diversa.
É normal que depois de tantos dissabores haja incompreensão, indignação e até revolta. A destruição impactou de maneira inédita a todos nós – inclusive aqueles que à distância acompanharam a devastação. Perdi o número de vezes em que chorei diante da tevê ao assistir as imagens da fúria das águas destruindo sonhos, famílias, patrimônios e vidas.
Aos 91 anos, o pós-tragédia também é uma oportunidade para fazer melhor, de forma assertiva, plural e resultante do empenho de cada arroio-meense. Criticar é sempre mais fácil que participar, propor, transigir e levar em consideração o trauma geral.
A cada visita à minha Arroio do Meio vejo e ouço depoimentos indignados diante do que já deveria ter sido feito. Compreendo, mas – repito – precisamos aprender a conviver com a nova realidade que a natureza nos impôs.
Não é – nem será – fácil. Mas talvez a partir de uma corrente de energias positivas possamos reconstruir nossa terra para melhor acolher as gerações que virão. Temos esta obrigação. De preparar melhores dias com a contribuição das competências de cada um de nós.
Parabéns a todos os conterrâneos. Temos muito do que nos orgulhar!

