
O que você faria se chegasse em casa e encontrasse seus filhos com amigos botado fogo nas cortinas, fazendo guerrinha com barro e água pela sala, revirando mesas e cadeiras, quebrando a louça da cozinha? Pior ainda se não fosse a primeira vez. Se a baderna fosse ficando cada vez mais desavergonhada.
Pois é, você não aguenta mais a situação. Então, ao chegar em casa no meio da balbúrdia, você dá uns berros e um trancaço em todo o mundo. Você bota todos a correr abaixo de chicote.
Se tiver boa cabeça, depois, sozinho, se pergunta por que isso acontece na sua casa.
Não é possível tolerar o caos dentro de casa – nisso estamos todos de acordo. Mas e depois?
Qual seria o próximo capítulo? O que você faria depois, para que o tumulto jamais se repetisse, estando em casa ou tendo virado as costas?
– Você apelaria para a violência como solução para conter a agitação da gurizada?
– Ou você acha que o chicote só devia ser chamado num momento extremo e de uma vez por todas, para que não fosse necessário nunca mais. Neste caso, você passaria a gastar tempo ensinando filhos e amigos a equilibrar o gosto de bagunça com a ordem que uma casa pede? Você se dedicaria a encaminhar a gurizada para fazer esportes, levaria para acampar, iria pescar com eles? Principalmente, arrumaria tempo para conversar, brincar, trocar ideias e experiências?
– Isso parece muito trabalhoso?
Pois é, dar atenção, cuidar, acompanhar, educar para a convivência é um investimento de grande porte, que se prolonga pelos anos.
Estes pensamentos vêm, diante da Operação Contenção nas favelas do Rio de Janeiro. Mal comparando, o que aconteceu no Rio é um equivalente da desordem que descrevi na cena da casa. No Rio, a situação de desmando era de tão grave, que se tornou necessário agir com força. Tem uma hora em que é indispensável dar um basta. (Não tenho certeza se era necessário sair matando assim…)
Mas e agora?
Será que alguém pensa que a violência resolve problemas tão complexos e enraizados como esse do Rio de Janeiro?
Violência é a mais primitiva e a mais tosca intervenção. Recurso extremo. Pode estancar. Pode reprimir. Pode conter. Mas solução de fato é outra coisa.
Solução pede investimento de tempo e de paciência. Solução passa por criar oportunidades de vida honesta e digna, num quadro com limites claros. O bom comportamento, aquele que é sólido, aquele que vem de dentro, não é o simples resultado do chicote. Acredito muito mais em ensinar a conviver dentro de regras. Em ensinar a respeitar limites.
“Que o seu sim seja sim, que seu não seja não.” Esta não é simplesmente uma frase do Sermão da Montanha. Esta é a tarefa que cabe aos pais, aos professores e às autoridades também.

