
Dezembro mal iniciou e, mais de uma vez, a frase que mais escuto é: “Lá se foi meu décimo terceiro salário — e olha que eu havia jurado, diante de testemunhas e faturas, que pagaria as contas e não me endividaria”. Pois é. Pelo visto, as promessas de fim de ano têm a mesma firmeza das dietas de segunda-feira.
Enquanto isso, muita gente anda por aí reclamando dos juros, dos salários minguados e, principalmente, daquela sensação de estar sempre um passo atrás das resoluções feitas entre abraços, espumante e a célebre frase: “Ano novo, vida nova!” Vida nova nada… só o calendário é que vira a página.
“Não emagreci, não arranjei um emprego melhor e ainda não concluí a faculdade. E, para completar, estou pensando em juntar os trapos com meu namorado”, confessou uma amiga, pertencente a um grupo raríssimo no país: o dos que têm emprego e renda fixa. Um clube tão exclusivo que nem precisa de carteirinha, basta apresentar o contracheque.
Ela me contou do pai, contador formado, vivendo de bicos aos 50 anos. Trabalho fixo? Só lembrança. Aposentadoria? Longe, quase miragem. A família sonhava montar um bazar de miudezas, mas o cinto apertou e as reservas escorreram pelo ralo invisível das emergências. Agora ela vai casar em março do próximo ano e jura que, em 2026, vai poupar, nem que seja de centavo em centavo. Tomara. Torço para que a vida a dois seja imensa em amor e estreita em dívidas.
A verdade é que a gente começa o ano com todo o gás, mas, conforme os meses passam, alguns sonhos viram insônia. É aí que entra o segredo: planejar dentro do possível. Nada de metas olímpicas para vida doméstica. Concluir o que já foi iniciado — o estudo, o trabalho, o compromisso presente, já é vitória.
Porque a esperança também se enche aos pingos, como terrina deixada sob torneira teimosa. Basta não desviar o olhar do objetivo principal. E quanto mais realista for, mais próximo e visível estará.
Não é assim?

