Na semana que passou vivemos uma interessante experiência de vida em nossa carreira de jornalista. Subimos o morro e fomos conhecer, assessorados pela dirigente cultural, Angélica Diefenthaler, a Comunidade Quilombola São Roque, próximo a localidade de Palmas, em Arroio do Meio. Numa região em que se destacam as comunidades colonizadas por alemães e italianos, chama a atenção a existência desta comunidade. Pois, lá existe um grupo com de cerca de oitenta pessoas, descendentes de escravos africanos, que convivem com costumes atuais, mas ainda preservam tradições de seus antepassados como a hospitalidade e o acolhimento aos visitantes além da gastronomia como os doces de pau, ralado, coco e paçoca. Conversamos numa tarde quente e abafada, apesar de estarmos a 600 metros de altitude, com integrantes da Associação Cultural Vovô Theobaldo, Ângela Maria da Silva, Loni Maria da Silva, Cristina Aparecida da Silva, Rejane Maia da Silva, Marcolino Francisco Gomes, Daiane Aparecida da Silva Gomes e a matriarca Araci da Silva, que tem 76 anos. Recordaram costumes perdidos ao longo dos anos como os almoços a base de pirão de farinha de mandioca, reforçado com ossos de porco, que fortaleciam quem trabalhava na roça, além dos cantos entoados pelas mulheres enquanto lavavam roupas no arroio das proximidades. Numa pequena sala da residência de Araci da Silva, que também é benzedeira, e uma espécie de conselheira, pois em casos de discussões, ela dá a palavra final, existe o espaço para orações. Num altar estão imagens como Nossa Senhora Imaculada Conceição, a protetora da família e outros santos. Nas terras íngremes e com muitas pedras, a dedicação para o cultivo de aipim, feijão, batata, milho e hortaliças. Ovos, frangos e produtos coloniais são comercializados na cidade. Algumas famílias trabalham com reciclagem de lixo.
Para manter os jovens no local a esperança é de que através de um trabalho de assessoria que a Emater/ RS-Ascar realiza seja implantada uma agroindústria. A água potável, que era um problema, agora está resolvida. A Umbanda também faz parte da religiosidade local através do Centro Oxum de Ogum. As festas que ocorrem no salão comunitário resgatam um pouco das tradições com destaque para a gastronomia com rapadura, pão de milho, sucos e chás, além de apresentação de capoeira, artesanato de palha e de pano e umbanda. Mas o que mais chamou a atenção deste escriba foi o fato das propriedades não possuírem muros ou cercas de divisão. “Cada um sabe onde começa e termina sua terra, vivemos em perfeita harmonia”, afirmam os moradores. Desci o morro cantoralando uma canção dos Titãs. “Alma lavada, alma lavada, dessa vida não se leva nada”

