Com o cenário cada vez mais crítico, tanto o vivido no Estado quanto em relação ao governo federal, vimos assistindo manifestações de governantes ou especialistas e cientistas políticos acerca de medidas e iniciativas a serem tomadas para corrigir a rota dos caminhos a serem trilhados. Há um sentimento comum de que são necessárias mudanças, algumas drásticas, que as regras da economia hoje exigem.
Com muita frequência, os gestores públicos insinuam e ensaiam argumentos que indicam para a elevação de impostos. O governo do Estado encaminhou projeto de lei para elevar a alíquota do ICMS, aumento nas taxações da energia elétrica, telefone, bebidas quentes, dentre outras. Já o governo federal acena com a possibilidade de elevar impostos sobre combustíveis, mexer na tabela do Imposto de Renda, não descartando, inclusive, a criação de uma nova fonte de recursos, modelo CPMF, como era a proposta anterior, ou seja, a destinação da arrecadação para a área da saúde, sabendo-se que não foi bem isso que aconteceu.
Mas há também propostas de mudanças nas estruturas de organização dos governos, nos âmbitos estadual e federal. No Rio Grande do Sul, coloca-se como possível a extinção de secretarias para diminuir despesas, cargos, diminuindo o peso da “máquina administrativa”. O governo federal também deixa transparecer de que poderá adotar medidas semelhantes, enxugando a sua estrutura. E aí há referências à junção ou união dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Rural.
O Movimento Sindical Rural não admite, em hipótese alguma, o fim do MDA, criado em 1999, com o objetivo de tratar das políticas relacionadas à Agricultura Familiar, especialmente os programas de acesso à terra, os instrumentos de apoio como é o caso do Pronaf, o Mais Alimentos e outros projetos de cunho social e econômico.
Por ocasião da realização da 38ª Expointer, na semana anterior, as entidades representantes da Agricultura Familiar presentes no setor das agroindústrias familiares, manifestaram-se diretamente aos Ministros, da Agricultura e do MDA, no sentido de preservarem a pasta, por sua identificação com as questões da pequena propriedade rural.
E apenas a título de comentário, a agricultura familiar, presente na Expointer 2015, através de mais de uma centena de estandes, superou o desempenho que teve no ano anterior. Em volume de vendas, apresentou resultados positivos, sendo atração nas milhares de visitas de público que compareceu à feira internacional.
Por outro, o comentário feito nesta coluna, na edição passada, pertinente ao comércio de máquinas na exposição de Esteio, confirmou-se com a divulgação de resultados do evento. Houve uma retração de 37% na venda de maquinas e implementos, na comparação com o desempenho desse setor no ano anterior.
Esse dado contrapõe-se ao que se espera daqui para frente no setor da produção agropecuária, que é a superação das dificuldades através da qualificação dos meios de produção e a eficiência ou produtividade.
LEITE – UM SETOR APREENSIVO
A condição humilhante a que estão sendo submetidos os produtores de leite, fornecedores e credores da Promilk, alguns tendo a receber 70 ou 80 mil reais, sem perspectivas de prazos e formas, aliada à manutenção do preço do produto já há mais de um ano, sem reposição quando os custos de produção elevam-se constantemente, além das sucessivas exigências sanitárias, estão, gradativamente, levando bons produtores, com conhecimento de causa, à desistência da atividade.
Um dos mais sérios problemas que percebo, por meio das manifestações dos produtores, neste contexto de dificuldades, resume-se na impossibilidade de eles serem ouvidos. A decepção é voz corrente no meio dos agricultores que se queixam do isolamento das indústrias, dos técnicos, dos dirigentes classistas. “Tudo é imposição. Vocês tem que fazer isso, aquilo, dessa ou daquela forma…”. Diálogo e valorização do trabalho são cada vez mais raros, provocando distâncias.

