Faltando duas semanas para o encerramento deste ano, percebe-se que muita gente já está em ritmo desacelerado, como habitualmente acontece. Enquanto o comércio se esmera para tirar o maior proveito do momento, outros setores, especialmente o industrial, trata de conceder férias, muitas em regime coletivo, para uma retomada, com gás total, após as festividades de “virada”.
O conceito de “ano turbulento”, vem de uma manifestação do Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul – FETAG-RS, ao fazer uma breve avaliação ou balanço de 2015 para a classe trabalhadora rural, sobretudo da agricultura familiar.
Ao classificar o ano como turbulento, o líder rural afirma que a instabilidade política que o país vive, revelando escândalos de toda ordem, que abalam profundamente a credibilidade dos políticos e das instituições de governo, bem como as incertezas da economia nacional, proporcionaram esse clima.
O dirigente sindicalista afirma que o setor primário, no Estado, teve alguns avanços ou fatos positivos, mencionando as tentativas de melhorias no Suasa e no Susaf, no sentido de viabilizar e simplificar procedimentos, reconhecendo a legitimidade da agroindústria familiar artesanal, a inclusão do leite na política de preços mínimos, as melhorias do Proagro Mais e a derrubada da obrigatoriedade do emplacamento das máquinas agrícolas.
Mas há também, segundo o Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais, situações que demonstram sérios problemas para a agricultura familiar, a começar pelos cortes no programa troca-troca de sementes de milho e de forrageiras, com reflexos diretos na atividade de produção leiteira. Essa atividade econômica, característica da pequena propriedade rural, já vinha se deparando com dificuldades, em decorrência dos escândalos do Leite Compen$ado, que levaram várias indústrias a fecharem suas portas, deixando milhares de produtores sem receberem o pagamento de sua produção entregue às empresas.
No âmbito nacional, a Federação manifesta-se afirmando que o governo federal simplesmente rasgou o seu discurso no que diz respeito ao crédito fundiário e reforma agrária. Pois reiteradas promessas foram adiadas, não cumprindo prazos por ele próprio estabelecido. Em contrapartida, denuncia que no Congresso Nacional há conchavos e articulações para flexibilizar ou facilitar a compra de terras no país por estrangeiros.
E para completar o cenário de apreensão, a classe rural aponta a possibilidade de ocorrerem mudanças na Previdência Rural. Já se ouviu falar de uma provável mudança na idade para a concessão do benefício da aposentadoria ao trabalhador rural, que atualmente é de 55 anos para a mulher e 60 anos para o homem. O que se cogita é que passe a ter, talvez, um único limite, que seria 65 anos para ambos os beneficiários, além de mudanças no benefício da pensão por morte de um dos cônjuges, restringindo a apenas uma opção e não mais os dois valores, acumulados, como acontece hoje.
Relativamente a perspectivas, positivas, para o próximo ano, podemos destacar a valorização das cadeias de produção de frangos de corte, suínos e bovinocultura de corte, além do leite, considerando a abertura de mercados externos, principalmente de consumidores em potencial, como é o caso da China que continua tendo um crescimento populacional extraordinário. Devemos manter uma produção de grãos em volumes muito bons, apesar do assustador crescimento do custo de produção, em consequência dos aumentos dos principais insumos utilizados no plantio das culturas, os tratos e os processos de colheita.
Não posso deixar de mencionar o debate que se estabelece, com cada vez maior frequência, relativamente à sucessão familiar, na pequena propriedade. O processo de seleção anda a passos acelerados e se essa onda não for contida, através de formas de motivação de jovens a permanecerem no meio rural, poderemos, muito em breve, ter os temidos “desertos” no interior, com uma forte desestruturação das comunidades, sociedades, com suas tradições e demais valores.

