O desabastecimento provocado pela falta de milho no mercado, mas, sobretudo nas indústrias avícolas e de suínos, já foi tema de comentário neste espaço em ocasião anterior. Mas considerando a importância e a abrangência do assunto, com consequências que vão se tornando trágicas, volto ao que se pode identificar como sendo uma grande ameaça às cadeias de produção de proteínas animais.
Nas últimas semanas ocorreram situações de falta de alimento, especificamente ração, para plantéis de frangos de corte, bem como de suínos alojados em propriedades agrícolas, que são as principais atividades atingidas pela crise em questão.
Há relatos de agricultores que ficaram até dois dias sem poderem tratar ração para os lotes de frangos e suínos. O prejuízo disso é dobrado, pois além da estagnação, perda de peso, os animais se agridem mutuamente, restando cicatrizes que mais tarde contribuem para uma “condenação”, no momento da entrega aos abatedouros.
Comenta-se, também, existirem granjas-matrizes de criação de leitões, sacrificando os animais recém-nascidos, assim como haveria o descarte de ovos férteis destinados à produção avícola, evitando procedimentos radicais mais adiante. E acontecendo isso podemos imaginar o que poderá restar como consequência desta situação, em termos de quebra ou interrupção nos ciclos de produção das cadeias e também no abastecimento dos mercados consumidores.
As empresas, especialmente as de sistemas de integração, possuem um planejamento de todas as etapas de suas atividades, quanto aos processos de produção, suprimento de insumos, abates e comercialização. Muitas pessoas estão inseridas nesse contexto de programas, sendo todas as partes afetadas e comprometidas com a não sequência normal da execução.
É da natureza das empresas e os seus projetos normalmente visam como fim maior de suas atividades, resultados concretos, que é a venda de um produto bom por um preço compatível. E o não cumprimento pontual de contratos, por razões que fogem de seu controle e de sua responsabilidade, já coloca em xeque a continuidade de um negócio e a sobrevida de um empreendimento. Lembramos aí o grande esforço das indústrias de carne que almejam ampliar seus volumes de exportações, a abertura de novos mercados, de novos consumidores.
A falta de milho ou a escassez é um problema do momento, sem uma expectativa de uma breve solução. Existe um esforço de órgãos governamentais, dos setores envolvidos, dos produtores, na ânsia de minimizar as dificuldades. A produção interna não atende à demanda. Grandes volumes do cereal já foram importados do Paraguai e da Argentina. De janeiro até abril deste ano, somam 243.650 toneladas. Somente em abril foram trazidas 105.940 toneladas. Mas os custos da importação igualmente são elevados e repercutem nos preços finais da carne ao consumidor.
Em maio de 2015, a saca de milho era comercializada, na região produtora, por R$ 16,77. Um ano depois, o preço já alcançava R$ 36,19, ou seja, uma elevação de 115,86%. Falta buscar a cotação do frango ou do suíno nesse mesmo período para demonstrar o desequilíbrio e as razões da inviabilidade de atividades.
Os produtores de suínos “independentes” sentem, sobremodo, as dificuldades quase intransponíveis. Muitos já desistiram da atividade. As integradoras ainda resistem, mas possivelmente tomarão medidas drásticas diante do quadro delicado.

