Vale do Taquari – A vinda do maestro João Carlos Martins para a região, na semana passada, reabriu a discussão da importância da musicalização na rede pública de ensino. Para profissionais e intelectuais ligados ao meio artístico, a música, enquanto disciplina curricular é tão essencial como o desenvolvimento de outras atividades culturais e esportivas, que incrementam a formação técnica, intelectual e social.
No ensino público brasileiro, a música é exigida por lei em somente uma série. Na região, alguns municípios como Colinas, Imigrante e Teutônia vão muito além. Se destacam no incentivo à prática, inclusive com convênios internacionais, por meio da realização de turnês de suas orquestras e corais na Europa.
Já outros municípios, como Estrela, procuram valorizar os artistas locais, incluindo-os na programação de feiras e eventos de âmbito regional, juntamente com famosos de renome estadual e nacional.
Nem todos os gestores pensam do mesmo jeito. Alguns diminuíram radicalmente e outros até extinguiram as atividades musicais. Essa lacuna geralmente acaba não sendo preenchida, pois poucas famílias têm recursos para acessarem a rede privada ou professores particulares. Além dos talentos perdidos, a ausência reflete num empobrecimento cultural, que culmina na perda do patriotismo e das raízes.
Em visita a um projeto social no bairro Santo Antônio, Lajeado, o maestro Martins relatou que somos um país de oito milhões de músicos, no entanto, mais de três milhões vivem à penúria. “A base de um país são a bandeira e o hino. […] A música faz parte da explicação de uma nação. Se o país se inspirasse na letra de seu hino, os governantes teriam mais respeito ao seu povo”, defende.
Ele é reconhecido por ser um dos maiores pianistas do mundo. Sua história de superação, marcada por tragédias pessoais que deixaram comprometidos o movimento das mãos, o levaram a ser um dos brasileiros mais respeitados internacionalmente enquanto maestro.
POTENCIALIZAÇÃO PÚBLICA
O empresário Marcos Bombardelli – agente das Orquestras de Venâncio Aires, Encantado, Teutônia, entre outras –, amigo pessoal do maestro, reclama do uso político do Núcleo Municipal de Cultura de Arroio do Meio. “Temos empresas fortes, músicos e bandas em praticamente todas as localidades. As leis Rouanet e de Incentivo à Cultura, poderiam potencializar a realização de eventos. Somos um dos poucos municípios que não possuem orquestra municipal e a música, enquanto disciplina, é pouco expansiva na grade curricular. Deveria evoluir anualmente como a matemática e português, desde a alfabetização. Praticamente nem temos professores atuando”, dimensiona.
ARROIO DO MEIO – Nos Anos Iniciais e na Educação Infantil, são ofertados encontros semanais de música por profissionais habilitados na área. Atualmente são quatro profissionais. Além destes, os professores titulares das turmas também trabalham o componente curricular Arte em suas aulas. São atendidos 1.359 alunos.
Nos Anos Finais, os alunos têm aulas semanais de Arte com profissionais habilitados. A música consta então como conteúdo deste componente curricular. Atualmente são quatro professores que atuam nas escolas e atendem a 765 alunos.
Além disto, são oferecidas oficinas de música nas escolas que oferecem o Programa Mais Educação no turno oposto ao ensino regular. Apenas a Escola Princesa Isabel desenvolve a modalidade de Orquestra Infanto-Juvenil, envolvendo 25 alunos.
Já o Núcleo de Cultura opera como apoiador de grupos constituídos. Na ala musical estão seis corais adultos: Municipal, Nota Livre, Misto Palmas Sul, Concórdia de Palmas, Concórdia de São Caetano e Vozes da Forqueta. Existem ainda corais e grupos musicais coordenados pelas comunidades cristãs e evangélicas. Também está sendo cogitada a abertura de uma Orquestra Municipal.
CAPITÃO – As atividades são desenvolvidas por três professores e direcionadas aos corais de Pequenos Cantores, Juvenil, Italiano, Alemão e Coral Municipal, Canto Solo, aulas instrumentais de Flauta, Violão, Teclado e Orquestra. Ocorrem no contra turno da rede municipal de ensino e em horários específicos quando envolvem convênios com entidades da comunidade. Geralmente são desenvolvidas pela secretaria da Educação com apoio do Centro de Referência em Assistência Social (Cras). As exceções ficam por conta dos integrantes do Coral Juvenil que são repatriados do Colégio Estadual Noturno e do Coral Alemão que é radicado em São Luis, entretanto, o funcionamento também depende do amparo do poder público municipal.
De acordo com a secretária de Educação, Cultura e Desporto, Lovani Bruxel, há mais de 140 cantores e instrumentistas envolvidos. O custo mensal começa com R$ 6,6 mil, direcionado ao pagamento dos professores – um pouco abaixo de R$ 50 por participante. As entidades também recebem auxílio transporte para apresentações dentro e fora do município, e para a confecção de trajes. Sua existência é de extrema importância para atos públicos e comunitários.
TRAVESSEIRO – As atividades de musicalização instrumental e de canto são desenvolvidas na Escola de Educação Infantil Criança Esperança e de Ensino Fundamental Pedro Pretto, e fazem parte da grade curricular, com nota no boletim, conforme lei federal de 2007.
De acordo com o professor Gustavo Rauber, fazem parte inclusive da alfabetização. Já a prática com instrumentos ocorre em oficinas no contra turno. Atualmente cerca de 40 alunos compõem a Orquestra Infanto-Juvenil.
O município também incentiva, por meio de convênios, a manutenção da orquestra municipal e do coral juvenil Novo Brilho. Estes projetos também estão na Lei de Incentivo à Cultura. Apesar da participação dos cantores e música ser voluntária, já recebem cachê por apresentação para ajuda de custo.
MARQUES DE SOUZA – No município basicamente a Escola Carlos Gomes – nome em homenagem a um dos principais compositores de ópera do país – concentra as atividades municipais de canto e musicalização, fazendo parte da grade curricular desde 2010 do 1º ao 9º ano, e no contra turno mediante interesse pessoal dos estudantes nas oficinas.
Os destaques vão para a orquestra infanto-juvenil, que funciona como laboratório da orquestra municipal adulto, composta atualmente por 22 músicos, e o grupo de violões aberto à comunidade. “Trouxemos a orquestra infanto-juvenil para dentro da escola para garantir a continuidade do projeto. Pois fora do educandário conflita com outros interesses. A concordância dos professores de outras disciplinas foi fundamental”, revela.
Além das aulas na rede municipal, o município mantém os corais Apollo (o mais antigo do RS), o misto, e na Escola Estadual Ana Neri, são realizadas aulas de musicalização, para fins de canto.
FORQUETINHA – As aulas de musicalização ocorrem nas escolas para fins de orquestra nas modalidades de sopro, flauta, violões e canto solo.
POUSO NOVO – As atividades de musicalização instrumental e de canto foram suspensas em decorrência de contenção de despesas.
A IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO ARTÍSTICO
O professor Gustavo Rauber ressalva que além de complementar a formação humana, a música envolve famílias e um círculo grande de participação e integração. No entanto, destaca a valorização da música na essência, enquanto arte.
Segundo ele, de forma particular, a iniciação musical hoje não baixaria de R$ 250 mensais, além de custos com deslocamento, aquisição e manutenção dos instrumentos, o que inviabilizaria a prática para grande parte dos envolvidos. “Já temos alunos que desenvolveram tão bem a aptidão, que já vivem de música, atuando em estúdios ou como freelancers em bandas e projetos”.
Rauber salienta a importância do planejamento e gerenciamento da carreira artística, pois a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) perderam sua função reguladora para viabilidade da profissão. “A formação básica de um músico leva de dois a três anos, mas a maioria desiste em decorrência da inviabilidade financeira, conflitos com a jornada de trabalho e rotina familiar, no entanto, levam a linguagem musical consigo para sempre”, observa.