No momento em que a Reforma da Previdência Social ganha as manchetes é hora de lembrar das diferenças entre o trabalho do produtor rural e do operário urbano. A vida de quem se dedica a produzir comida é um eterno desafio à paciência. O número de variáveis que podem comprometer a subsistência do agricultor é imenso, mas isso não o desanima.
O homem do campo geralmente compartilha a rotina com a mulher e os filhos, num trabalho familiar que perpassa gerações. Ele conhece bem as agruras, mas tem consciência da importância da lida diária. Não apenas como mantenedor na produção de alimentos, mas para manter a roda da economia.
Milhares de municípios brasileiros subsistem graças à produção primária. Revendas de veículos, de máquinas e implementos agrícolas, combustíveis, pneus e lubrificantes, além de peças, gravitam em torno do campo. Lojas, restaurantes, armazéns, escolas particulares e comércio em geral têm, na riqueza gerada pelo agricultor, garantia de sobrevivência.
Justiça com aqueles que não têm sábado, domingo, feriado ou férias
O inclemente clima gaudério, que alterna períodos de calor causticante e seca inclemente com meses de umidade, geada e até neve, forjam o colono em sobrevivente constantemente tentado a desistir. Mas ele teima em continuar, mesmo diante da insensibilidade de autoridades que devem reconhecer a sua importância social.
O mercado, com suas nuances inconstantes, transformam a comercialização numa montanha russa, num jogo de loteria e paciência, em que solavancos do outro lado do planeta repercutem nos preços mínimos. A dedicação de dias e noites a fio são desvalorizados diante de prosaicos episódios na China ou fruto do discurso desastrado de Donald Trump. Uma declaração infeliz de Michel Temer pode causar uma alta inusitada nos preços dos insumos. Haja planejamento!
Por tudo isso, a Reforma da Previdência precisa ser criteriosa, justa e contemplar a valorização de quem trabalha uma vida inteira produzindo alimento, riqueza, empregos e tributos que viabilizam investimentos nas áreas estratégicas dos governos. O produtor rural, de mãos grossas e disposição inesgotável, não pode ser novamente sacrificado. A história tem sido pouco justa com ele, protagonista de um enredo que levou o Rio Grande do Sul de outrora a ser considerado o celeiro do Brasil. Por tudo isso, cautela se impõe para fazer justiça àqueles que não têm sábado, domingo, feriado ou férias remuneradas.

