No último fim de semana estive outra vez na terrinha. A paisagem da viagem agora ostenta generosas bergamoteiras que emolduram a BR 386. Pelo visual, é possível prever que teremos safra cheia, como no ano passado.
A bergamota suscita histórias inesquecíveis da minha infância no bairro Bela Vista. Tínhamos praticamente todo o tipo de plantas, fosse fruta, verdura, legume e tudo que é possível semear. Meu pai costumava parar no acostamento de qualquer rodovia, em qualquer lugar do país, ao vislumbrar alguma árvore diferente.
Ato seguinte ele pulava a cerca e em minutos retornava com sorriso largo com uma muda, semente ou fruto capaz de ser reproduzidos. O que era colhido era acomodado no terreno com esmero. O capricho do velho Giba era tamanho que costumava programar o despertador para a madrugada, a fim de mudar a mangueira de lugar. Assim ele garantia que os canteiros seriam irrigados de forma parelha. Até um pé de café, trazido do interior do Paraná, rendeu frutos, façanha comemorada com uma salva de foguetes.
As bergamotas sempre tiveram lugar especial. Por isso, o inverno era precedido de grande hesitação por parte da gurizada. Havia abundância de fruta e a partilha entre nós, vizinhos, era uma praxe. Uma caraterística consagrada desta fruta cítrica é o seu aroma inconfundível.
A bergamota é parte indefectível da minha história. Não se pode lutar contra isso!
É impossível descascar uma “berga” sem que o “perfume marcante” permaneça por horas a fio nas mãos e na roupa. Até a variedade pokan, de casca grossa e com menos líquido garante o estilo “dedo duro” desta fruta cítrica.
Na Escola Luterana São Paulo, o aroma de bergamota tomava conta das salas de aula e no pátio. Principalmente depois do receio, embora muitos chegassem cedo da manhã ostentando o perfume marcante.
Na cidade grande encontra-se bergamotas descascadas ou somente seus gomos em supermercados, acondicionados em bandejas de isopor e embaladas a vácuo. Vamos combinar! É uma descaracterização total nos festejos do inverno gaudério!
Tive colegas de trabalho, quase sempre mulheres, que usavam luvas de plástico, tipo de cirurgia – juro! – para descascar a bergamota consumida como sobremesa. Eu, de terno e gravata, costumava arregaçar as mangas e caprichar no sabonete líquido para disfarçar o aroma. Com ou sem ojeriza ao cheiro, trata-se da fruta-símbolo do inverno gaúcho.
Aqui vai uma confissão: nessas andanças pela -BR 386 tenho resistido bravamente à atração dos galhos que pendem no acostamento com frutos em abundância. Amanhã, quando viajar novamente para Arroio do Meio, tentarei novamente driblar a tentação, mas não garanto…
A bergamota é parte indefectível da minha história. Não se pode lutar contra isso!

