Ninguém gosta de fila. Isto é uma certeza. Mas é a instituição brasileira odiada pela maioria das pessoas. Mas vamos analisar com racionalismo este fenômeno, afinal, as filas existem em quase todos os lugares.
A fila é a mais evidente manifestação de democracia de um país onde esta forma de governo enfrenta seguidas provas de resistência. Apesar de rotineiro, ficamos irritados diante do aglomerado de pessoas em busca de atendimento, de uma ficha no posto de saúde, de serviços bancários, de tudo enfim.
A regra de funcionamento da fila é simples: quem chega primeiro é atendido. Mas como tudo que deveria respeitar os bons costumes, em lugares há desvios que já se incorporaram à rotina nacional. Alguém – sempre! – possui um amigo, um conhecido ou um apadrinhado que consegue “furar” a fila e ignorar os “trouxas” que insistem em seguir a ordem de chegada.
A revolta que toma conta dos brasileiros diante do oceano de falcatruas é notória. A indignação nacional ofusca o fato de que nossos parlamentos – integrantes das Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara Federal e Senado – são constituídos de pessoas que nós, eleitores, indicamos através do voto. É bom lembrar que a cada quatro anos estes nossos representantes são submetidos a uma espécie de concurso, através de uma nova votação.
Seria aconselhável revisar nossa conduta e a nossa crônica falta de comprometimento
O parlamento, em qualquer nível, reflete o que somos. Constrange ler e ouvir isso, mas é a mais pura verdade. Todos, antes de chegar ao parlamento através do voto, exerceram uma profissão ou pelo menos declararam alguma ocupação ao registrar-se na Justiça Eleitoral. “Este congresso não me representa”, é uma afirmação que costuma-se ouvir nos protestos que ecoam Brasil afora. Mas afinal, não somos nós os responsáveis pelo poder concedido àqueles que desviaram bilhões?
Além da irresponsabilidade que permeia a escolha do eleitor, é raro encontrar um eleitor que sequer recorde em quem votou. E é muito mais difícil encontrar alguém que acompanhe o desempenho de seu parlamentar. E, hoje, com o advento da internet, é possível controlar votações, opiniões e atitudes dos políticos.
Comodistas, preferimos adotar uma postura confortável, através da crítica ao voto obrigatório. Diante desta afirmação, como seria uma eleição em que só votaria quem quisesse? Imagino que a compra de votos seria maciça, fazendo do dinheiro e de favores ilícitos moeda a sustentar a nossa democracia ativa.
Neste momento crucial do Brasil, seria aconselhável que revisássemos nossa conduta e nossa falta de comprometimento.

