Tudo na vida tem os dois lados. A máxima se aplica, inclusive e principalmente, na chamada terceira idade.
Há uma semana me despedi do Clayton Schuh, amigo de sala de aula do Colégio São Miguel, parceiro do Mini Craques – onde foi competente goleiro – e companheiro das reuniões dançantes de garagem e no Clube Esportivo. Avisado da triste notícia pelos irmãos Elio e Enio Meneghini, saí de Porto Alegre às 13h direto para as capelas mortuárias da Bela Vista.
Ao longo da BR-386 um filme “dos bons tempos” passou na minha cabeça. Clayton era um “guri tinhoso”. Adorava confusões nas aulas das irmãs Saléria, Rosa e outras. Lembro quando escondeu um rato na gaveta onde a professora guardava o caderno de chamada.
Vocês podem imaginar a confusão… As gurias se puseram de pé sobre as cadeiras. Os guris saíram “a milhão” atrás do roedor que se escafedeu pelo corredor, chamando a atenção de outras turmas. Bagunça geral e suspensão com direito à vista ao SOE – Serviço de Orientação Educacional, uma espécie de castigo moderno para a época.
Sérgio “Tedila” Kunz, Jairo (irmã do Clayton), Lynho Schnorr, Roberto “Betão” Theves e eu formávamos uma turma endiabrada, admito. Lynho era o autor intelectual das proezas que o Clayton executava com requintes de criatividade. Os demais faziam uma espécie de “cortina” para encobrir a sacanagem da hora.
Além de “rebelde do bem”, Clayton era dotado de uma inteligência rara. Lembro de um final de ano quando as avaliações tiravam o sono de nossos pais. À exceção de Educação Física, o endiabrado goleiro do Mini Craques pegara recuperação em todas as disciplinas. Ele, no entanto, não demonstrava a mínima preocupação.
– Vou passar em todas as matérias, tirar dez em tudo e vocês pagarão um cachorrão com refrigerante durante todo o ano que vem – apostou.
Prontamente aceitamos o desafio de bancar o “cachorrão”, aquele cachorro-quente incrementado que era uma novidade, servido num trailer. Foi um grande erro da nossa parte! Clayton não apenas passou em todas as provas como tirou 10. Em tudo! O ano seguinte foi de grandes despesas para nós, seus amigos e cúmplices.
O velório do filho do casal Urbano e Benita Schuh foi uma oportunidade de rever velhos amigos. Como sempre acontece nestas ocasiões, a gente se olhou e disse:
– A gente precisa se ver!
Raramente isso acontece. Mas todos – os “amigos especiais” – estão em nossos corações, inspiração eterna a partir de lembranças inesquecíveis. E o Clayton, com toda a sua irreverência, ocupa um lugar especial. Para sempre!

