Evolução é consequência natural das coisas, apesar de alguns comportamentos humanos que parecem um claro retrocesso. Aos 17 anos deixei nossa querida Arroio do Meio – à época com menos de 10 mil habitantes – para morar em Porto Alegre. Era uma aventura e tanto para um piá nascido no bairro Bela Vista, ao lado da então Bebidas Kirst & Cia. Ltda. – hoje Bebidas Fruki – fundada por meu saudoso avô materno, Bruno Emílio Kirst.
O mundo da cidade grande era um devaneio, resultado de impressões e fragmentos forjados pelo depoimento de amigos, noticiário de jornal e rádio – principalmente da “crônica” policial – e do contato com familiares residentes na Capital. Havia medo diante de batedores de carteira, motoristas de táxi que aceleravam sem noção, prostitutas da Avenida Voluntários da Pátria.
Na época, sair de casa era um comportamento normal depois da formatura ou para casar, com o diploma do curso de datilografia ou de corte e costura. Poucos arriscavam deixar a casa paterna e as mordomias como comida da mãe, roupa lavada e passada, quarto arrumado e o apoio em caso de frustrações.
Gostaria que meu filhos morassem sozinhos,
mas no mesmo prédio que eu e minha esposa
Hoje tudo mudou. Boa parte da atual geração – sim, parte dela, porque toda generalização é injusta – prefere o aconchego familiar, relutando em arriscar um nova vida. Pai de um casal de adultos jovens – de 23 e 25 anos – fico atento a todos os movimentos da dupla. Afinal, sou um adepto, confesso, de voos para outras paragens.
Costumo dizer que gostaria que meu filhos morassem sozinhos no mesmo prédio onde resido com minha mulher. Assim eles teriam responsabilidades, obrigações e abasteceriam a geladeira com seus ganhos. E, no caso de emergência, uma espécie de fone 190, teriam pai e mãe bem pertinho.
Hoje, sair da colônia e migrar para os grandes centros é uma prática comum, o mesmo que acontece com os intercâmbios e a transferência para o exterior. Isto fica fácil porque quase toda a gurizada domina o inglês e outros idiomas. Muitos pais não querem ouvir falar nisso. Mudanças para grandes centros urbanos ou outros Estados são rechaçadas em decorrência da distância e das dificuldades de encontros.
Nenhum dos meus filhos fala abertamente na possibilidade de bater asas, mas seus olhos brilham quando o enfoque trata da liberdade de ir e vir. E de voltar tarde, ou cedo da manhã, sem prestar satisfações para a dupla de “malas”, encarnada pelo pai e mãe.
Apesar da inevitabilidade de sofrer da “síndrome do ninho vazio”, a verdade é que nós, adultos, até pensamos na hipótese, mas logo mudamos de assunto. Não convém imaginar chegar em casa e não encontrar os rebentos com seus queixumes, confidências e dúvidas tão comuns em todos os lares.

