Desafios fazem a vida valer a pena. Geram expectativa, por vezes indignação, mas suprimem a mesmice da convivência social. Muita gente que lê meus escritos me acusa de “escrever como um velho”. Isto, lamento informar, é consequência da minha faixa etária de 60 anos, que serão completados em 7 de junho de 2020. Mesmo taxado de saudosista, muitas coisas “do meu tempo” estão superadas.
A convivência com colegas bem mais jovens impõe abrir mão de hábitos aferrados à rotina em contraponto com as novidades que facilitam a vida. Com frequência faço um balanço “o que eu aprendi neste mês” para auferir avanços e retrocessos na maneira de proceder, associada à mudança de hábitos.
Aderir incondicionalmente às novidades me tornará um prisioneiro ainda mais dependente da tecnologia. O celular expulsou as velhas revistas das salas de espera dos consultórios e decretou esta obsessão de sacar o aparelhinho do bolso ou da bolsa para conferir as notificações.
Jornalista que se preze não pode abrir mão deste telefone multifuncional. É um instrumento indispensável que impinge a incapacidade de relaxar. Nunca tive notebook, uma falha para quem costuma escrever nos mais variados horários quando a inspiração aparece. Mas, para ter tempo para o lazer, evito adquirir este aparelho.
Na falta de computador e TV resta o velho e bom radinho de pilha
Quando venho para Arroio do Meio fico numa espécie de exílio. Explico: não descobri, ainda, onde posso adquirir jornais de Porto Alegre. A leitura nas primeiras horas da manhã é um vício antigo. A tevê do apartamento da minha falecida mãe é analógica, não funciona. Sobra como opção um prosaico radinho de pilha, companheiro diário entre 5h e 7h, quando saio de casa.
Várias vezes estava na terrinha no fim de semana e fui demandado para redigir textos. A alternativa é o celular, que não atende às necessidades de um datilógrafo formado na Escola de Datilografia Remington Rand, do saudoso Jorge Vasconcellos. A demora compromete a qualidade do trabalho. Discretamente incluí o laptop como sugestão de presente de Natal, mas duvido que serei atendido.
A gurizada que convive comigo tira sarro quando chamo um deles para prestar “consultoria tecnológica para o véio”. Desde fevereiro, quando iniciamos esta jornada coletiva de trabalho, aprendi bastante, mas há muita novidade para absorver.
Em contrapartida às aulas de modernidade, contribuo com dicas de convivência, de abordagem de pessoas e contatos úteis para vencer obstáculos do dia a dia. Essa convivência híbrida traz vantagem para todos, celebra a boa parceria e transforma o trabalho em um aquisição permanente de conhecimento.

