Quem é “jovem há mais tempo”, como eu, lembra com nitidez da expressão “palavrinhas mágicas”. Acho que até os mais jovens poderão lembrar do significado. Quando era bem piá, bastava pedir alguma coisa de maneira brusca ou descuidada para ouvir dos meus pais:
– Por acaso tu esqueceu das palavrinhas mágicas?
Eles se referiam a termos como “muito obrigado”, “por favor”, “desculpe” e “com licença”. Trata-se de um conjunto de chaves que abrem muitas portas, facilitam o relacionamento e denotam respeito no trato com outras pessoas.
Apesar de ser uma praxe antiga, o uso destas palavras está fora de moda. Basta olhar ao redor para constatar a brutalidade das relações, sejam pessoais ou virtuais. A agressividade sepultou a boa educação, os “modos”, como diziam meus avós quando passavam uma “descompostura”.
Notadamente as crianças parecem desconhecer a gentileza nos relacionamentos interpessoais. Por óbvio estão desacostumadas a presenciar o uso dentro de casa, na escola, festinhas e outros ambientes que frequentam. Isto tem embrutecido o mundo que parece uma arena de enfrentamento permanente.
Defendo a manutenção de um código
mínimo com preceitos de civilidade
É tão raro o uso das palavrinhas mágicas que quando ouvimos o seu uso reiterado ficamos boquiabertos. Numa roda de amigos é comum todos se olharem espantados e, muitas vezes, ouvem-se críticas:
– Puxa vida! Que cara metido, heim? Tão cheio de frescuras para falar!
Mas muitas vezes também é possível recolher elogios.
– Masbá! Este cara é educado pelo sistema antigo. Com certeza os pais eram dedicados e “chatos” nesta questão dos filhos serem educados no trato com os outros.
Os professores e educadores têm uma tarefa ainda mais árdua. Dentro da sala de aula. Eles passam maus bocados no convívio com crianças e adolescentes – e até com jovens adultos –, desacostumados às boas maneiras. Em casa e nas redes sociais – onde interagem nas 24 horas do dia – o ambiente é de rispidez, brutalidade e malcriadez.
Longe de pregar o retorno à educação à moda antiga, defendo a manutenção de um código mínimo com preceitos de civilidade para traspassar as relações sociais. Esta convenção faria do cotidiano um lugar mais humano e fraterno. E é disso que precisamos com urgência. Do contrário, caminhamos de forma açodada ao confronto eterno que contraria os fundamentos da convivência humana.

