“Queremos água, queremos água”, foi o que manifestaram dezenas de moradores das linhas Atalho e Alto Tigrinho, em frente à prefeitura de Marques de Souza, na tarde da segunda-feira. A mobilização foi monitorada pela Brigada Militar e pelo Pelotão de Choque. O ato foi realizado em decorrência da demora para soluções no abastecimento, reivindicadas no fim de dezembro.
As localidades sofrem com falhas no fornecimento de água há, pelo menos, duas décadas, mas a estiagem intensificou os efeitos. Como fontes, vertentes naturais e açudes utilizados para abastecer granjas secaram, não houve vazão suficiente para atender as 63 propriedades que integram a associação de água. Muitos recorreram à contratação de caminhões tanque, utilizados para o transporte de leite e dejetos para amenizar os prejuízos. A falta de água para o consumo humano é o que mais exacerbou os ânimos dos cerca de 300 moradores.
Conforme equipe técnica da Eco Diehl, contratada pela prefeitura no fim do ano passado, também havia vazamentos e desvios irregulares nos 27 km de rede, além de problemas numa bomba que diminuiu a pressão, impedindo que a água chegasse até as residências mais longínquas. A intenção do poder público é solucionar os reparos ainda nesta semana. Também foi constatada a inexistência de reservatórios para emergências hídricas.
Entretanto, o maior problema da localidade é que o poço que abastece as famílias tem água imprópria para o consumo, com excesso de flúor e outros minerais. A situação foi diagnosticada pelo Ministério Público de Lajeado há 15 anos, que já vinha pressionando a prefeitura para uma interdição desde 2017.
Conforme laudos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, a maioria dos poços existentes nas duas localidades ficam sobre o aquífero Botucatu – de característica porosa e fraturada – cujas análises não se enquadram nos limites aceitáveis pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
Essa característica, impediu que a entidade conseguisse a outorga do poço artesiano. Isso impossibilitou o enquadramento nas tarifas econômicas de energia elétrica para entidades comunitárias, somente na modalidade comercial, o que dobra o custo operacional em comparação com outras associações, fazendo com que muitos produtores rurais paguem mensalmente próximo a R$ 1 mil na conta da água.
O único poço das imediações que capta água do aquífero Guarani, apta para o consumo humano, foi desapropriado pela Administração por ordem do MP, por R$ 25 mil, segundo avaliação judicial. Sua vazão chega a 45 mil litros por hora. A estimativa é de que a ligação com a rede ocorra em 30 dias, o investimento total deve superar R$ 100 mil. “O subsolo é da União e a medida visa atender direitos humano da coletividade”, esclarece o prefeito Edmilson Amauri Dörr, o Brida.
Brida reconheceu que a demora na solução é culpa da burocracia da atividade pública. Também não descarta municipalizar o abastecimento da água das duas localidades, caso não sejam resolvidos os problemas de ordem administrativa e estrutural. “Estamos investindo dinheiro público numa entidade privada”, observa.
O presidente da associação de água, Amilton Stoll, e a tesoureira Reni Eckardt, rebateram as afirmações do prefeito, argumentando que estas localidades geram muitos recursos na produção primária, e que o investimento público, em situações de direitos humanos e sustentabilidade da cadeia produtiva, é obrigação dos gestores.
A expectativa agora fica em torno do desfecho da desapropriação. O proprietário do imóvel está recorrendo da decisão judicial. Durante coletiva de imprensa, o prefeito revelou a existência de ameaças.
