Diariamente passo diante da Santa Casa de Misericórdia, no centro de Porto Alegre. Mesmo cedo, por volta das 7h, já é grande o movimento de pacientes, familiares, ambulâncias de todas as regiões – inclusive de fora do Estado -, além de um contingente de pequenos vendedores ambulantes, que gravitam em torno da instituição.
Ao vislumbrar o semblante destes personagens do cotidiano, tento imaginar a história de cada um, suas agruras, dores, frustrações e sonhos. Não raro vejo pessoas com sonda ou oxigênio, outros com curativos à mostra ou apoiadas em muletas e andadores. Também há crianças ruidosas e motoristas de ônibus e vans contando peripécias no exercício diário do que se consagrou chamar de ambulancioterapia.
A caminhada matinal rende, ainda, recordações da minha mãe. Dez anos antes de falecer, aos 83 anos, submeteu-se à cirurgia de extração de um pulmão acometido por câncer. Depois do procedimento submeteu-se a uma bateria de sessões de radioterapia, que renderam muitas amizades. Ela não cansava de elogiar os jovens atendentes – médicos e técnicos de enfermagem – que driblavam o tempo ocioso e as mazelas do tratamento com bom humor e solidariedade.
Mais que uma casa de saúde, a Santa Casa é o ponto de encontro dos gaúchos que buscam esperança, saúde, tratamento e um fio para agarrar-se para superar a doença. Todos os números remetem a uma cidade de médio porte. O complexo integra nove hospitais, são 2,2 mil médicos, mais de 6 mil funcionários e 231 consultórios. É o mais antigo hospital do Rio Grande do Sul, sendo fundado em 19 de outubro de 1803. É exemplo de excelência em medicina e humanismo.
Pode parecer estranho enfocar um tema que para muitos soa traumático porque envolve saúde, dor e, por vezes, morte. Mas como outras instituições públicas, a Santa Casa cumpre a função que inspirou a sua criação com louvor. Oferece atendimento de qualidade e agrega carinho, atenção e eficiência, mitigando o sofrimento. A Santa Casa é o ponto de convergência por casualidade, mas é lá que os gaúchos se encontram para celebrar a vida.

