Completo hoje exatas cinco semanas de confinamento. Saio por dois motivos: ir ao supermercado (sábado ou domingo) e sair com o Fiuk, nosso cusco maltês, lá pela meia-noite.
O tal “home office”, ou seja, trabalhar em casa, é uma prática moderna adotada para aumentar a carga horária. Minha atividade como jornalista sofre com a modernidade que incluiu inúmeras práticas sem a devida contrapartida salarial.
Nos meus bons tempos de redação, por décadas, havia um profissional para redigir a matéria, outro tirava fotos e outros gravavam as entrevistas em áudio ou vídeo para rádio e tevê. Hoje, um único profissional – que sequer diploma precisa – faz tudo isso, além de abastecer as inúmeras redes sociais.
Esses dias tão diferentes me transportaram para o passado. Ao assistir a “live” (transmissão pela internet) da genial sambista Alcione, lembrei-me dos tempos de piá paciente frequente de amigdalite. Uma mudança brusca de temperatura ou um banho de chuva era suficiente para que o termômetro disparasse. Cheguei a atingir incríveis 41 graus de febre para o desespero da dona Gerti, minha mãe, que temia prejuízos mentais a este cronista.
Longe de serem tempos de férias, os novos hábitos
desafiam a paciência de pessoas ansiosas como eu!
O período de convalescênça era cercado de mordomias como devorar guisado com pão quentinho feito em casa ou tomar refri, prática restrita a aniversários e ocasiões especiais. Além disso, podia assistir a tevê e dormir até tarde. Em tempos de pandemia acordo às 8h, três horas mais tarde que o normal. Depois do banho, é hora do chimas e dos jornais com rádio ligado, seguido da produção de textos.
As refeições são atentados à balança. Tenho devorado lasanhas, feijão preto, arroz soltinho, batatas fritas e doces, pizzas e churrasco ao menos duas vezes por semana. No retorno à normalidade o desafio será achar roupas que sirvam confortavelmente. Ontem, descobri que uma camisa jeans encolheu dentro guarda-roupas…
Recolhido com minha mulher e filha, curto filmes inéditos e outros repetidos à exaustão pela NET, além de shows de cantores que tentam ajudar os necessitados. Longe de serem férias, os novos hábitos desafiam a paciência daqueles como eu… inquieto, ansioso e que corre das 5h às 1h da madrugada.
Confesso que os primeiros dias foram desafiadores, mas às vésperas de me tornar sexagenário – eu não disse “sexygenário” – é preciso intensificar exercício de calma. Mais tranquilo e gordo e trabalhando de 10 a 12 horas por dia, aguardo que os especialistas assinem minha carta de alforria.

