Se a falta de chuva desde o fim de outubro, e o excesso de calor no verão por si só, já tinham causado prejuízos incalculáveis na produção de cereais, frutas e hortaliças, da última semana para cá, os proprietários de hortas e jardins tiveram uma nova surpresa: ataques de tatus e alguns pássaros de grande porte.
De acordo com relatos, em praticamente todas as localidades de Arroio do Meio, ocorreram situações de hortas e jardins revirados e gramados com buracos. Nem a chácara do técnico em agropecuária da Emater/RS-Ascar, Elias de Marco, na Barra do Forqueta, escapou da ação dos animais silvestres. Isso que ele tentou se precaver, disponibilizando outros alimentos nas imediações como alternativa, a exemplo do arroz, que acabaram sendo consumidos por gatos e cachorros abandonados.
Conforme De Marco, o comportamento dos animais é por uma questão de sobrevivência. Pois em seu habitat, em meio ao mato e imediações de cursos de água, o solo está seco e compactado, o que dificulta a retirada de alimentos como minhocas, insetos, raízes e lagartas. Isso faz com que esses animais migrem para locais onde o solo está mais fofo e, muitas vezes, irrigado. Os ataques só não ocorreram em locais cercados com tela, madeira ou sombrite.
O tatu é um mamífero de hábitos noturnos, que tem o casco como defesa. Geralmente não anda em bando e busca alimentos nas imediações de tocas que já abriu para refúgio rápido. Sua residência é numa toca caseira, cheia de galerias, frequentada por outros tatus. Em busca de comida, com ajuda das unhas fortes, ele é capaz de fuçar dezenas, até centenas, de buracos numa única noite. Às vezes é seguido por outros tatus, que também estão com fome.
Já estes pássaros, geralmente são vistos perto de águas rasas, banhados, áreas recentemente aradas e potreiros. Alimentam-se de crustáceos, moluscos, caranguejos e matéria vegetal (sementes e folhas). Procuram alimento usando o bico, caminhando lentamente.
A tendência é de que os ataques continuem até a ocorrência de chuvas mais expressivas, que melhorem o habitat natural desses animais. A precipitação de domingo e segunda-feira só molhou áreas abertas, mantendo secos os espaços com vegetação.
Nos dias mais críticos, o pedreiro Emerson Fröhlich, o Xugui, 46 anos, morador de Arroio Grande, irrigava sua horta todas as noites. Eis que na manhã da quarta-feira, dia 22, deparou-se com cerca de cinco canteiros completamente revirados. “Não comeram nenhum alimento plantado, mas fuçaram tudo. Pelo estado do chão, parecia que foi realizado um baile”, detalha. Xugui revela que nos rabanetes, cenouras e beterrabas houve perda total. As demais hortaliças, cuja raiz não é o alimento, foram replantadas na horta da cunhada, que é cercada e fica nas imediações. Agora, Xugui também estuda cercar sua horta. Na temporada passada, quando não houve seca tão expressiva, sua horta também já havia sido atacada.
Abate e consumo não são recomendados
No caderno Agrovale de janeiro, o veterinário Eduardo Chiarelli observou que no Vale do Taquari e em todo o Brasil, as pessoas têm como hábito caçar e apreciar pratos à base de carnes silvestres, como ratão d’água, capivaras, tatus, preás, javalis, lebres, rãs, lagartos, pombos e perdizes.
A caça e o consumo de carne silvestre são proibidos por lei. Porém, culturalmente, a população não tem costume de fazer denúncias. Existe até uma gourmetização destas experiências, que não são consideradas interessantes do ponto de vista sanitário, ambiental e clínico. Apesar do aquecimento no preparo dos alimentos reduzir a chance de contágios por via oral, as pessoas que manipulam estas carnes, os caçadores, açougueiros e cozinheiros têm risco de serem infectados por zoonoses.
