Ninguém mais aguenta falar no assunto, mas é inevitável. Imaginem, amigos, o esforço deste cronista para fugir do tema que domina as rodas de conversa, a imprensa, redes sociais e as fofocas via janela entre vizinhos. Estou há quase 40 dias mergulhado no trabalho, postado no sofá com rádio e TV ligados, jornais sobre a mesa e vários sites de notícias abertos.
Apesar do confinamento não tenho do que reclamar. Acordo animado para seguir adiante, muito bem acompanhado da mulher, filha e cachorro. Claro que tivemos conflitos, mas a relação está muito melhor que o esperado. Sou um ansioso incorrigível, característica mascarada pela rotina multifacetada, nada a ver com os dias atuais.
A máxima de “viver um dia de cada vez” se impõe. Estamos diante de uma situação inédita. Talvez somente aqueles que sentiram os horrores da guerra tiveram experiência parecida. Todas as relações humanas estão afetadas, reduzidas a quase nada.
Tenho temor pela saúde mental e pelos desdobramentos econômicos ali à frente. A produção industrial do país caiu quase 10% em março, quando muitas atividades estavam mantidas, mas foram atropeladas em abril e continuam em maio. Trata-se de um índice altíssimo com consequência direta no corte de empregos, redução de dinheiro circulando e riscos de inflação elevada.
Deveremos aprender que somos seres
humanos e que devemos agir como tal
A solidariedade é a tônica, mas milhares sofrem com a fome, a falta de perspectivas em situação de miséria. Proliferam campanhas de ajuda, mas é preciso fazer mais, sempre. Os cofres públicos não terão fôlego para mitigar os efeitos da crise.
Em países castigados por tragédias – guerras, tsunamis, terremotos, atentados e epidemias – o abraço solidário da ajuda é uma reação reflexa. Lá, empresários reduzem lucros, os bancos cumprem suas funções sociais, trabalhadores aprendem novos ofícios e autoridades adotam postura humanitária e não política. São reações normais, mas distantes da nossa realidade de país pacífico que acolhe a todos, tem tolerância com a corrupção e o “jeitinho”. Por tudo isso estamos prostrados.
Tentei, mas não consegui driblar aqui o vírus onipresente. Invisível e implacável com grupos de risco, impondo um novo estilo de vida. No final deveremos aprender, na prática, que somos seres humanos e que devemos nos comportar assim. Como diriam os locutores de então… “reina grande expectativa! ”.

