Sempre fui muito ativo, ansioso, inquieto. Acordava às 7h da manhã, depois antecipei para às 6h e, antes da pandemia, pulava da cama às 5h. Tudo para cumprir as primeiras tarefas do dia com calma, sem o chamado irritante do celular ou a distração de conversas do entorno.
Fecho mais uma semana de confinamento. Perdi a culpa em protelar o despertar até às 8h. Quando há necessidade, acordo mais cedo, mas tem sido exceção. Não adotei a sesta, apesar dos excessos de um almoço melhor que o outro com direito à repetição. O desafio é resistir ao chocolate ou à torta de bolacha como sobremesa.
As jornadas de trabalho somam muitas horas ao longo do dia. Isso, porém, é um atrativo porque assim mantenho a cabeça ocupada, espantando a ansiedade e os riscos de depressão. As doenças mentais serão um dos grandes desafios da pós-crise.
Escrevo estas linhas na terça-feira. A melhor notícia deste dia foi o retorno da chuva que precederá um período de frio intenso. Em época de contradições causa espanto constatar a vibração de moradores urbanos e rurais com o fenômeno.
Infelizmente alguns seres humanos são
caso perdido, sem chance de recuperação
Quase sempre nós, que moramos na cidade, torcemos o nariz para a chuva pelos transtornos à mobilidade. Já no interior, o mau tempo (neste caso, bom!) foi saudado com olas semelhantes às verificadas no Nordeste onde a seca é um flagela histórico.
São tempos estranhos estes de 2020 que chegou todo pimpão, exalando otimismo depois de um 2019 horrível. Esperava-se uma economia em alta, empregos em profusão e que abalos maiores só aconteceriam nas eleições municipais. Mas, um atropelo sem precedentes precipitou os fatos, devastou todas as estimativas e soterrou previsões.
O mundo come, bebe e dorme um único assunto. Existe um tema que domina a comunicação planetária com detalhes que viajam milhões de quilômetros e chegam às nossas casas em segundos.
Virou chavão dizer que nada será como antes, embora tenha minhas desconfianças. Muitos seres humanos são caso perdido, sem chance de recuperação, cuja melhoria está fora de cogitação. Sofre e faze sofrer, choram e causam dor, mas jamais desenvolvem os princípios da solidariedade. Resta a cada um de nós assimilar da melhor maneira as lições da crise. E fazer deste pandemônio um aprendizado de sobrevivência.

