Denise Scheid Huppes
Há muitos anos converso com meus botões, toda vez que ocorre uma enchente em nosso município, sobre as pessoas que saem de suas casas – seguras e secas – é claro, para “olhar” as águas elevadas e fora de seus leitos. Virou um programão!
Na última semana, com a cheia tomando ruas, casas, plantações, empreendimentos comerciais e tantos outros, mais uma vez o city tour foi a opção de muita gente. Sem dúvida, desta vez, sendo uma enchente histórica e com níveis absurdos de água espalhada por todos os lados, o interesse aumentou.
Mas quais são os problemas?
São vários, a começar pelas poucas ruas do centro que permitem o tráfego de veículos provocando congestionamentos, outros querendo ocupar espaços para estacionar dos moradores que tiveram de deixar seus carros na rua porque a garagem estava inundada. Sem falar na dificuldade das equipes que retiram as pessoas e seus bens, seja da prefeitura municipal, ou de empresas de mudanças, ou amigos e familiares que querem ajudar quem está mais necessitado no momento, porque os visitantes chegam próximos dos pontos mais críticos e precisam fazer a volta para retornar à via. E ainda há as emergências atendidas pelas ambulâncias!
Outro problema é afirmar que muitas pessoas moram em regiões ribeirinhas porque querem, que a casa é modesta e pouco resistente porque não trabalham e não têm condições de uma moradia melhor, e que quando dizem que perderam tudo para alguns, vira motivo de chacota porque o ‘tudo’ é um fogão, uma geladeira, uma mesa e algumas cadeiras e uma cama de casal onde dormem 6 pessoas amontoadas.
Tem ainda aqueles que dizem que a resolução do problema é somente do poder público porque pagam impostos e que as pessoas mais desafortunadas já recebem demais da prefeitura e de outras esferas de poder.
Então, minha sugestão é radical! Se não precisar sair, fique em casa e se o fizer, será para ajudar na mudança de quem precisa tirar com rapidez seus móveis e utensílios, se dispor a levar para casa e lavar as roupas molhadas e úmidas de quem está desabrigado, fazer comida e distribuir marmitas, doar material de limpeza e ajudar na faxina quando as águas baixarem, comprar material escolar para as crianças que viram tudo sair boiando…
Se uma pequena parcela dos ‘turistas’ iniciar uma mudança de comportamento e se tornar mais solidária, empática e generosa, garanto que a ‘viagem’ será muito mais proveitosa! E não falo somente daqueles que receberam a ajuda…quem é bom entendedor, já deve ter captado a mensagem!