O motorista de caminhão Luiz Fernando Horn guarda boas lembranças da época em que viajava Brasil afora. Há dois anos e meio é concursado da secretaria de Agricultura de Arroio do Meio e leva para as estradas do interior todo o conhecimento adquirido nos 18 anos transportando cargas pelo país. Dos 26 estados brasileiros, só não conhece Acre, Roraima e o Amapá.
No período em que viajava para as regiões Norte e Nordeste, chegou a ficar até 11 meses fora de casa. Era comum ficar, em média, cinco meses sem voltar a Arroio do Meio para ver os pais, irmãos e amigos. Por conta do trabalho, não constituiu família. Por outro lado, conheceu o país de um ângulo muito diferente do que é mostrado aos turistas. Viu a dureza do sertão nordestino e a pobreza que assola muitos brasileiros.
Em 2001, um acidente fez com que tivesse de parar por seis meses. Num fim de tarde, no município de Alto Santo, no Ceará, um caminhão chocou-se com o dele e, na sequência, ambos saíram da pista. O caminhão causador do acidente caiu sobre o de Luiz Fernando, que teve ferimentos graves. Teve fratura exposta no fêmur esquerdo e precisou ficar 32 dias internado no hospital, onde passou por três cirurgias.
Distante quatro mil quilômetros de casa, teve a sorte de contar com a ajuda de um amigo que tinha levado um irmão para aprender o ofício de caminhoneiro. Este irmão pôde ficar no hospital com Luiz Fernando e também auxiliar no seu retorno para casa, feito de avião, numa maca. A recuperação foi lenta e a maior parte do tempo ele ficou deitado. “Os amigos diziam que eu não voltaria a dirigir caminhão. Mas assim que me recuperei, voltei para a estrada”, conta.
Do período em que ficou no hospital, diz que não pode reclamar. Afirma que o povo do Nordeste é muito acolhedor e prestativo. Por coincidência, um parente de um militar gaúcho que residia no Ceará estava internado no mesmo quarto. Ficaram amigos durante a internação e, mesmo depois da alta, o militar e a família visitavam Luiz Fernando praticamente todos os dias.
O acidente não fez com que o motorista, que iniciou na função em 1994 na antiga Incomex, desistisse da estrada. Contudo, com o passar do tempo, percebeu que viajar estava cada vez mais perigoso por causa das condições das estradas e, principalmente, pela imprudência de muitos colegas de profissão. Além disso, depois de quase duas décadas passadas mais fora do que em casa, achou que era chegada a hora de ficar mais próximo da família. Mudou o segmento de transporte, o tempo que permanecia fora e a distância percorrida. Por três anos e meio, trabalhou junto à Vale Log e depois prestou concurso para a prefeitura.
Do tempo das longas viagens, guarda as boas recordações, o aprendizado e as amizades. Diz que não se arrepende e faria tudo de novo. Conheceu lugares e realidades que não teria conhecido se não fosse pela profissão. Da mesma forma, não teria tantos amigos país afora. “Em todo o lugar que eu chegava fazia novas amizades. As pessoas são muito acolhedoras. Foi um período muito bom da minha vida”, afirma. Luiz Fernando nunca foi vítima de assalto. Sofreu outros pequenos acidentes, mas todos apenas com danos materiais.


