Terça-feira publiquei no jornal O Informativo do Vale, da vizinha Lajeado, uma crônica onde elogiava a iniciativa de empresários da cidade. No final de semana, diante da decisão de um juiz que impedia a reabertura das atividades consideradas não essenciais, comerciantes criaram um grupo de WhatsApp.
Segundo um amigo arroio-meense contou, eram mais de 500 integrantes que pactuaram, independentemente da decisão, abrir seus negócios. A liminar do magistrado foi cassada e a chamada cogestão permitiu a abertura nesta semana sem afronta à lei.
Minha coluna no Informativo revoltou um grande amigo que mora em Lajeado. Ele, a esposa e atualmente o pai foram acometidos pela covid-19. Com educação e respeito, esgrimimos argumentos em relação à decisão conhecida por “fecha tudo, fica em casa”. Há três semanas os gaúchos convivem com a chamada “bandeira preta”, a partir de um sistema de cores, por região, por determinação do governador Eduardo Leite.
De lá para cá, os números só aumentaram. A cada dia o Rio Grande do Sul bate recordes funestos. Existem extensas listas de espera nas UTIs. Falta oxigênio e insumos, cujos preços triplicaram na dolorosa lei da oferta e procura.
Esta crônica é um pedido de desculpas ao amigo
com quem discuti de maneira desnecessária
Tratamentos alternativos, mesmo que já tenham salvado inúmeras vidas, são rechaçados muitas vezes por leigos, entre os quais colegas de imprensa. São “especialistas de Google” que se arrogam conhecimento científico que jamais tiveram, escolhendo opiniões coincidentes. Quem ousa divergir dos “iluminados do microfone” é execrado, inclusive os médicos que, diante da súplica de familiares de contaminados, tentam salvar vidas a qualquer custo.
Voltando ao debate com o dileto amigo lajeadense, confesso profundo arrependimento por ter rebatido seus argumentos. Encerramos a discussão em alto nível, concordando que era hora de encerrar a celeuma. Minha contrição se deve ao fato de que o meu oponente ficou hospitalizado por vários dias, acometido pela covid, junto com a esposa.
Ser acometido por este vírus suponho constituir uma experiência sem comparações. Ao contrário de outras doenças graves, a covid é nova, repleta de indagações e insegurança, carente de certezas. Câncer e outros males crônicos são velhos conhecidos de médicos e especialistas, apesar de suas variantes.
Há um ano vivemos esta dicotomia dos que defendem o fechamento de tudo, através do chamado lockdown, e os que insistem que a miséria e o desemprego matarão outro tanto de brasileiros. Como no futebol, política, religião, cores e amores, o mais conveniente seria calar.
O amigo com quem discuti lerá esta crônica. É um pedido de desculpas. Felizmente meu interlocutor tem mais equilíbrio e maturidade que este cronista. Encerrou a discussão com o mesmo alto nível de nossa longeva amizade.
Muito obrigado pela amizade. E pela lição!

