A foto que ilustra esta crônica é o retrato dos Correios, estatal que por décadas foi orgulho pela eficiência. A pandemia apenas agravou uma situação que já era caótica.
A onipresença da internet facilitou nossa vida, mas passa um sentimento de conformismo e certo relaxamento daqueles que deveriam garantir a excelência postal.
Ao longo do tempo nos acostumamos a ouvir uma expressão que resume a desvalorização dos Correios, a partir de suas falhas:
– Não chegou o boleto? É só “entrar na internet”, acessar o site e imprimir o documento!
A partir do confinamento é cada vez mais raro receber pacotes como estes da foto acima que recebi na terça-feira. Só havia jornais e revistas, alguns datados de abril. Não havia correspondência bancária, comercial ou legal.
Antes de serem eficientes os Correios foram precários. Era comum que os amigos distantes reclamassem por “notícias por escrito”. Naquela época as cartas eram caprichosamente escritas à mão, lacradas com uma cola pegajosa das agências onde eram apostos os selos. Como resposta pela ausência das cartas, dizia-se que “os Correios estão atrasados, juro que te mandei uma carta, vai chegar!”.
Debate sobre privatização da empresa
gera muita polêmicas Brasil afora
A derrocada dos Correios é resultado de vários fatores. O Brasil soube dos desvios milionários da empresa porque políticos inescrupulosos se apropriaram de cargos estratégicos permitindo o mau uso deste patrimônio nacional.
Hoje a estatal suscita debates sobre a possível privatização. Críticos argumentam que basta “moralizar” a estrutura. Contrários afirmam que a manutenção de milhares de servidores estáveis – que não podem ser demitidos – representa um fardo para restabelecer a eficiência, além, da escassez de recursos.
Na última conversa com um carteiro ele me disse que do efetivo de 26 colegas para atender o bairro apenas nove estão em atividade.
– Há três anos os aposentados não são repostos, sem falar no pessoal que contraiu a covid-19 – contou.
Mesmo sem receber boletos, nossa vida ainda é uma sucessão de pagamentos. Afinal, “basta entrar na internet e imprimir o documento”. Muito diferente dos bons tempos em que o amigo Eduardo “Zêzi” Führ entregava pontualmente as nossas correspondências em casa.

