Para muita gente, este final de ano não será a repetição daquele tradicional momento de confraternização entre amigos e familiares. O ano foi tirano com a gente da nossa região. Começamos 2023 assolados por uma estiagem sem precedentes que arrasou a agricultura. Apesar das promessas – sempre presentes nestes episódios – nem todo prometido chegou ao destino. Escrevi sobre a dura jornada que termina em dois meses, neste espaço, sob o título “Um ano para esquecer”. O conteúdo repercutiu e valeu uma provocação da dileta amiga, intelectual, colega de jornal/colunista e sempre professora, Ivete Kist. Ela achou-me muito pessimista diante do escrito, produzido com o coração aberto. Respondi a ela que “a parte boa do ano” viria em outra crônica.
Mas tenho dificuldades para cumprir a promessa. Final de ano se caracteriza pelo momento de balanço, reflexão, confraternização e, entre um espumante e outro, rabiscar deliberações para o ano que se avizinha. São metas às vezes repetidas, ano após ano. Com saúde, família e emprego pode parecer pessimismo reclamar da vida, mas o sofrimento de conterrâneos, de pessoas queridas e próximas, possui o condão de machucar. Busco o lado bom de episódios dolorosos. É a história de enxergar o “copo meio cheio”, diferente de ver a vida cor-de-rosa em tudo.
A capacidade de mobilização da gente do Vale do Taquari e a solidariedade que brotou de todo RS e do país faz pensar. Graças a repetidas gerações ostentamos a fama de gente trabalhadora, ordeira e cumpridora de obrigações. Este renome foi fundamental para conquistar ajuda e apoio, através de recursos materiais e financeiros e também para reivindicar melhorias. O momento é de “transformar o caos em limonada”, de tomar decisões para prevenir novos flagelos, de cobrar promessas e equiparar a região com dispositivos de tecnologia para evitar tragédias. Vidas foram perdidas. Precisamos estudar a fundo as causas, planejar com técnica e dedicação para posteriormente executar os avanços. Se impõem concretizar projetos para gerar emprego, riquezas e viabilizar melhorias na qualidade de vida da população em vulnerabilidade. Para isso é preciso, agora e por muito tempo, amparar quem não têm forças para recomeçar. Solidariedade, palavra intensa que nos resgatou, deve pautar a vida no Vale do Taquari. Para reerguer vidas e sonhos.