Li certa vez que um grupo de astrônomos havia encontrado evidências de que um distante planeta teria sido “devorado” por sua estrela. Isso lhes permitiu, em matéria publicada na revista científica “Astrophysical Journal Letters”, sugerir igual destino à Terra daqui a bilhões de anos. Não estarei vivo para conferir, mas a pesquisa me impressionou. Enchentes e vendavais que vem assolando o planeta em função do aquecimento global, dos maus tratos provocados por seus habitantes humanos, não poderiam atrair um acidente intergaláctico semelhante?
Eu aqui, ilhado em Eldorado do Sul, acabo lendo tudo, sobre todo tipo de especulação e passo a achar que estes senhores que estudam a formação dos corpos celestes e os fenômenos que acontecem no Universo, tem motivos bem fundamentados para especular sobre a possibilidade de nosso planeta também ser engolido por uma imensa bola de fogo – o Sol – dizimando os bons, os maus, e tudo aquilo que construímos em milênios.
Improvável? Sei lá, mas no mesmo dia em que li sobre essa possibilidade de ameaça intergaláctica, recebi de um amigo, postagem de um site de futilidades nada científicas (que a maioria lê), destacando a foto de uma jovem atriz a exibir lascas de seu bumbum, em uma ultra mini saia. Estaria sem roupa íntima? Ou trajava quase invisível fio dental?” especulava o texto. Quantos séculos levaremos para desvendar esse mistério? Ou amanhã, tal revelação não valerá mais nada, transformada em diminuta fagulha na constelação de astros não hollywoodianos?
Bumbuns, seios fartos e gente disposta a se expor, não nos faltarão até sermos devorados pela bola incandescente sugerida por estes astrônomos (já não bastavam os pregadores apocalípticos?) Uns observam o sol, a natureza, as ciências, outros empunham máquinas fotográficas para a vil missão de flagrantes pueris. Ou seja, somos realmente importantes no Cosmos? Quem perceberá nossa ausência, após sermos engolidos pela gula solar?
Entre a astrofísica e as revistas de variedades, penso que o melhor é aproveitar os bilhões de anos que nos restam, com foco nas coisas que realmente importam. Mas o que é verdadeiramente importante? A cultura ultraleve, da vida mundana? A filosofia, a poesia dos gênios incompreendidos? “Os talentos atingem metas que ninguém mais pode atingir; os gênios aquelas que ninguém jamais consegue ver,” dizia Arthur Schopenhauer. E daí?
À noite, ao retornar para casa, abandonei essas reflexões ao ver que, ao longo do meu caminho resplandecia a lua em sua fase crescente – amarela – quase a encostar no asfalto da BR 290. Em seu formato de embarcação, parecia navegar entre estrelas. E percebi que aquele momento era muito maior do que a imagem do bumbum carnudo da jovem atriz e mais verdadeiro do que as teorias sobre as probabilidades de termos o planeta engolido por nossa, ainda amistosa, estrela solar daqui a bilhões de anos.
Estar ali, aproveitando aquele momento exuberante, que dispensa a ciência e os pudores mundanos, dava sentido a tudo. Guardei aquela luz como fonte para os momentos de breu. Se um dia seremos engolidos, que tenhamos então produzido o melhor, o mais digno em pensamentos e ações para justificarmos, minimamente, a instabilidade e brevidade da condição humana como conhecemos. “São demais os perigos desta vida” cantou Vinicius de Moraes. E aí é que está a graça.