
Na minha juventude, eu encomendava meus ternos com “seu” Ivo, um alfaiate simpático e bem-conceituado em Porto Alegre. Com o passar dos tempos, percebi que ele e a esposa se dividiam em todas as atividades, desde o negócio da família até os cuidados da casa. Lembro a vez em que cheguei e a dona Clara veio me atender. “Essa é a semana do marido na cozinha”, justificou ela. E lá do fundo, ouvi os sons de panelas e fritura. Com o passar dos anos, percebi que eles haviam mesclados às funções, assim como o casal Nércio e Loreci, em Arroio do Meio, conforme a bela matéria de Neusa Alberton Bersch na edição passada do AT.
Por que homens não podem assumir as funções de costureiro e mulheres as de alfaiate, envolvendo-se na criação e confecção de roupas masculinas? Dona Clara me cortou um blazer que fez sucesso, perfeitamente costurado pelo marido que, igualmente, passou a confeccionar roupas femininas. Isso nos anos 70. Ambos tinham o domínio dos cortes, era a vida deles desde a juventude.
E nesse mesmo ritmo segui procurando dividir tarefas sem o olhar preconceituoso do machismo. Os familiares mais velhos torciam o nariz quando me viam ajudando nos afazeres da casa. E foi o que me ajudou na independência ao viver sozinho, ou surpreender as namoradas com dotes gastronômicos ou o capricho do cara que ajudava a desalinhar os lençóis e, no dia seguinte, deixava a cama esticadinha. Às vezes, dependendo da parceria, assumia o café acompanhado de pães aquecidos, ou um bom omelete.
O espaço dele, ou dela pode existir, é natural. Mas não demarcado por rígidos papéis de gênero, na regra de certos trabalhos “só para homens ou mulheres”. Hoje a coisa está mais equilibrada. Por exemplo, Janaína Rueda – considerada a melhor chef mulher do Mundo – atua nas cozinhas de sua rede de restaurantes ao lado do marido Jefferson. Juntos criam pratos inovadores e saborosos (segundo clientes, pois nunca provei).
Ou seja, que o mundo de tantas divisões seja menos preconceituoso e mais prático na hora de compartilhar atividades profissionais. Quem diria que teríamos, por exemplo, mulheres atuando em áreas de policiamento ostensivo. Aqui em casa, a situação está ainda bem equilibrada. Mas se a balança pesar muito para o meu lado, vou pensar seriamente na criação de algum movimento de libertação do macho oprimido. Direitos iguais, ora!

