
O título acima foi dado a um conto publicado na Rússia, no século XIX. Seu autor é Leo Tolstói, um dos escritores mais brilhantes de todos os tempos. (Observar que a palavra “homem”, aqui, designa o ser humano em geral, não se restringe ao indivíduo do gênero masculino.)
O conto de Tolstói tem poucas páginas, mas
crava uma pergunta gigantesca.
A pergunta pode ser feita de diferentes maneiras,
em qualquer lugar do mundo, e através dos séculos.
Sua resposta nunca é fácil.
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No conto de Tolstói, o personagem central é um camponês chamado Pahóm. Ele trabalha como meeiro na terra de outros. Leva vida tranquila, mas bem modesta. A certa altura, num golpe de sorte, consegue se tornar senhor de uma propriedade. Agora, ele começa a enfrentar as dificuldades da administração rural da perspectiva de quem é dono da terra. Se antes ele sofria sob o rigor do proprietário, agora é ele que tem queixas contra aqueles que contrata para trabalhar. O lado bom é que, em pouco tempo, Pahóm reúne as condições para fazer outros negócios e aumentar seu patrimônio. Isso o leva a mudar de residência sucessivas vezes. Por fim, chega à região de Samara, onde as terras são incomparavelmente melhores e muito baratas. Um maravilha!
Imediatamente, faz uma oferta. A tribo que mora ali aceita na hora. Diz que ele pode escolher o pedaço que mais lhe agrada e pode demarcar a extensão da terra que quiser. O preço é fixo, independentemente da quantidade de hectares. Só tem uma condição. A terra tem que ficar no interior do perímetro que Pahóm conseguir demarcar no espaço de um dia – desde o amanhecer até que ficar escuro. O dinheiro do pagamento ficará depositado no lugar de onde Pahóm sair caminhando. Se ele não voltar até a noite, perde todo o dinheiro e não ganha terra nenhuma. Se cumprir o trato, a terra será sua.
Pahóm começa a demarcação. Vai andando e fincando marcos no solo. Está tão feliz que quase não acredita. A terra é ainda melhor do que ele pensava. Um trecho é mais fértil que o outro. Não tem como não pegar mais um pedaço. E Pahón vai fazendo voltas e voltas, aumentando a extensão da área que será sua. Quando vê, o sol começa a se pôr no horizonte. Então se apressa em virar a volta para retornar. Escurece. Pahóm corre para chegar de volta em tempo. Corre e corre. Corre cada vez mais desesperado. A noite está chegando. Pahóm não aguenta mais. Continua correndo. Correndo. Correndo. A poucos metros do local da partida, Pahóm cai.
O criado que o acompanha vem ajudá-lo a levantar. Mas Pahóm permanece caído, e de sua boca corre um filetezinho de sangue.
Está morto.
Então, o criado pega uma pá e cava uma cova do tamanho exato para que Pahóm possa caber nela. Não são necessários mais do que sete palmos de terra.
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Ou seja: De quanta terra precisa um homem?

