
Na semana passada, triste notícia nos chegou do pequeno município de Estação, aqui no Rio Grande do Sul: um adolescente de 16 anos matou à faca, em plena sala de aula, uma criança, além de ferir duas outras e uma professora.
Não é a primeira vez que uma tragédia dessas acontece em escolas de locais não tão distantes.
Ainda lembramos de episódio, em 2021, em que cinco pessoas foram mortas no município de Saudades, Santa Catarina, e de que, em 2023, quatro crianças foram mortas em Blumenau.
Verdade que tragédias desse tipo não são privilégio nosso. Notícias semelhantes nos chegam de diferentes
partes do mundo com uma triste frequência. Talvez por isso mesmo continua fazendo sucesso mundial a série britânica “Adolescência”, lançada na Netflix no mês de março último. Ali se conta a história de um garoto de 13 anos que esfaqueia e mata uma colega.
De tudo isso, a principal certeza é que a culpa não pode ser atribuída à faca. Quero dizer, as responsabilidades tem de ser encontradas em outro lugar.
Um conhecido ditado africano lembra que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.
Quer com isso dizer que cuidar dos pequenos não é tarefa exclusiva dos pais. A comunidade toda colabora, para o bem ou para o mal.
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Considero que o mais assustador na conclusão da série “Adolescência” é constatar que o comportamento violento do rapazinho têm múltiplas origens. Família, escola, amigos, redes sociais, serviços públicos partilham a culpa. É por isso que a conclusão dos pais do criminoso: “Nós poderíamos ter feito mais”, se estende para além deles mesmos. Certamente, toda “a aldeia” poderia ter feito mais – voltando ao ditado africano.
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Entre nós já avançou muito a atenção a crianças e jovens. Mas pela frente ainda há um longo
caminho a percorrer.
O que mais se pode fazer?
Dá para buscar inspiração na experiência da Escandinávia – uma das regiões mais avançadas do mundo. Lá também há dificuldades, sim, só que faz tempo que eles reconhecem a responsabilidade da “aldeia inteira”. Eles sabem que a negligência, o autoritarismo e a falta de oportunidades favorecem as escolhas juvenis desastrosas que, por sua vez, retornam negativamente sobre a comunidade. Em nível nacional, eles têm o Ministério da Juventude e, no âmbito dos municípios, as Secretarias da Juventude. A tais órgãos incumbe a tarefa de oferecer acesso a lazer com supervisão adequada, a práticas esportivas, artísticas e culturais a todos os jovens – com destaque para os mais vulneráveis. Igualmente prestam ajuda na colocação em trabalhos remunerados, em paralelo com a frequência à escola.
É fato que todas as pessoas têm necessidade de sentir que pertencem a uma comunidade, a qual se importa a sério com elas – os jovens de modo particular. Não há maneira de evitar todos os crimes, mas certamente vale investir em medidas que oportunizem uma vida melhor. Sentir-se só e abandonado é sentir-se vazio. Quem está vazio não consegue contribuir com a comunidade e, ao agredi-la, considera que não tem nada para perder.

