
A onipresença da tecnologia fez desaparecer hábitos arraigados há décadas. Manter leitores do livro/jornal físico – “de papel” – é uma das rotinas desafiadoras. Ávidos leitores temem que, mais dia, menos dias, sejam reféns das telas, acessando conteúdos apenas no celular ou computador.
Recentemente houve a moda de colorir livros. Muitos acorreram às papelarias para comprar caixas com lápis de cor. Falou-se sobre o passatempo para combater a solidão e prevenir a depressão. Domingo minha filha Laura me presenteou com um livro, mas não era um livro qualquer.
O título chamou minha atenção: “Pai, me conta a sua história?”, com 160 páginas, quatro capítulos e capa dura. O livro lembra álbuns onde antigamente os pais anotavam dados a partir do nascimento dos filhos. Ali constavam detalhes dos primeiros anos de vida. Também servia para guardar a primeira mecha de cabelo, dia e hora do primeiro banho, data dos primeiros passos e o balbuciar das palavras iniciais. A autora é Elma van Vliet, editora Sextante.
O mote do livro é evocar lembranças para recordar
episódios, personagens e momentos especiais
O primeiro capítulo denomina-se “Me fale sobre sua infância e sobre como você cresceu”. A sessão reserva espaço para escrever sobre a infância, os pais e avós, a vida em família e como crescemos. Também se pode descrever episódios e momentos especiais vividos com os familiares mais próximos. Ali estarão as reminiscências do bairro Bela Vista, onde nasci e cresci, a correria nos potreiros, o roubo de bergamotas e butiás.
Há também o “Me fala sobre o amor e sobre ser pai”, seguido de “Me fale sobre seus hobbies” e o último é “Me fale sobre quem você se tornou”.
Achei a ideia sensacional. Recomendo aos amigos a aquisição. No primeiro dia preenchi 15 páginas. Foi suficiente para voltar no tempo. Recordei os piqueniques à beira do rio Taquari, campeonatos de futebol de salão na Praça Flores da Cunha, torneios de vôlei/handebol no Colégio São Miguel e as aulas de catecismo na Escola Luterana São Paulo, as reuniões dançantes de garagem, o primeiro beijo e namoro, entre outras recordações. O mote do livro é evocar lembranças para recordar episódios, personagens e momentos especiais. No meu caso, o intento foi plenamente atingido.
Em pleno império tecnológico, graças à minha filha descobri um livro valioso que conseguiu despertar em mim antigos recortes da infância, adolescência e vida adulta, além das minhas origens. Tudo isso me fez voltar no tempo. O que é sempre gratificante.