
As admiráveis pontes modernas, como a Golden Gate ou a Rio-Niterói, não apresentam estruturas rígidas. Ao contrário. Elas são desenhadas com juntas de dilatação, cabos tensionados, margens de flexão, que permitem movimento. A engenharia sabe que o excesso de rigidez provoca abalos, pois a estrutura inflexível não absorve o impacto. As pontes precisam balançar um pouco… para não quebrar.
Falo do caso das pontes, para pensar nos desafios muito atuais entre negociar ou não negociar acordos comerciais. Mas a reflexão tem amplitude maior. Aplica-se às relações de todos os tipos, inclusive as domésticas.
Na origem latina da palavra “negociar” somam-se dois elementos: nec (não) + otium (ócio). De modo que negociar tem a ver com negar a passividade, abandonar um estado de contemplação e tratar de afazeres. É ir ao encontro de algo externo. Em resumo, negociar quer dizer voltar-se para a vida prática e interagir.
Isto autoriza a pensar que negociar não quer dizer submeter-se à vontade de outrem. Longe disso. A palavra apropriada, neste caso, seria “obedecer”. Negociar é outra coisa. Para negociar, cabe compreender que divergências são fatos corriqueiros da vida, em todos os setores. E compreender também que a vontade de um não é a medida das decisões. Havendo divergências, o primeiro passo é reconhecê-las; o segundo, acreditar que a aproximação de posicionamentos diferentes pode abrir caminho para um novo entendimento – eventualmente mais satisfatório para ambas as partes – e batalhar por oportunidades de sentar à mesa – digamos assim.
Acontece de haver recusa a negociar. Em geral, isso sé dá porque um lado está completamente certo de que sua vontade deve prevalecer. A posição inflexível pode ser uma forma de vaidade, que aparece vestida com o manto da certeza. Bom, todos sabemos como as certezas são precárias, limitadas…
Aceitar sentar-se à mesa de negociação é contemplar a verdade do outro em confronto com a própria verdade e tentar compor uma verdade nova. É, talvez, recuar, para que os dois lados avancem. Isto não é sinal de fraqueza. Fica mais próximo de sabedoria.
Nem sempre é possível, claro. Ainda mais quando, alguém leva a sério a piada que diz assim:
“O negócio tem de ser bom para os dois: para mim e para o meu sócio…”
Muitos não acreditam nas pontes de estruturas flexíveis. Preferem ser tão rígidos quanto o oponente que abominam. Preferem seguir a Lei do Talião – o princípio baseado na retribuição. A Lei do Talião
aparece na fórmula: “olho por olho; dente por dente”.
O caso é que, neste caminho, aumenta muito o risco de todo mundo acabar cego e banguela…

