
Felizmente o mês de agosto está chegando ao fim. Quem plantou salsa na lua cheia vai ter a garantia de temperos por vários anos, pois não produzirá sementes. Mas essa longa temporada de frio e chuva, felizmente tende a acabar. Eu esqueci de cuidar o “sieben schleva”, que nos impõe sete semanas de dorme-dorme, mas certamente ele se confirmou.
Para mim o ano recomeça em setembro.
Não sei se foi coincidência, mas tive vários episódios que ficaram gravados em minha memória de adolescente, sempre no mês de agosto…
Todo mundo possuía o seu cachorro. Sem as mordomias de hoje, os cães eram tratados com os restos de comida. Praticamente não existiam veterinários e vacina para raiva não fazia parte da cultura.
Correu a notícia de que a polícia e populares perseguiam um cachorro louco. Minha mãe nos colocou para dentro de casa e meu pai ficou na porta com seu revólver. Logo o cão apareceu, babando, e parou na entrada de nosso portão. Meu pai apontou, mas não atirou, pois havia casas do outro lado da rua. Seus perseguidores conseguiram matá-lo próximo ao campo de futebol.
A porta da cozinha de nossa casa era fechada apenas com um ferrolho… e havia a abertura para a entrada e saída dos gatos. Meu quarto ficava a um passo da porta. Nosso perdigueiro, Duque, dormia sobre um saco, guardando a porta.
Numa noite dessas acordei com os ganidos de nosso cão sendo atacado por um cachorro louco. Segurando a frágil porta, só depois que o barulho cessou é que abri a porta e consolei nosso cão, todo mordido e babado. No dia seguinte nosso pai o prendeu e providenciou a vacina antirrábica. O terror me acompanhou por muito tempo pois todo mundo “sabia” que a raiva poderia se manifestar em 7 horas, 7 dias, 7 meses ou 7 anos…
Numa ocasião em que minha mãe estava no hospital, contei minha preocupação ao Dr. Ruy Mathias Strassburger e ele mandou que eu fosse ao Posto de Saúde e iniciasse um tratamento. Não cheguei a completar o tratamento, mas as doze injeções que tomei já aliviaram minha consciência. Dona Zeni Machado, dona Celita Lindemann e a Irene da Silva, que todos os colegas de aula chamavam de Sirene, já conheciam bem o meu traseiro.
Meu irmão mais novo não teve a mesma sorte. Mordido por um cãozinho do vizinho, o qual estava com a doença, precisou fazer as 21 injeções antirrábicas.
Talvez seja só coincidência, mas o mês de agosto tem sido trágico também na política brasileira. Foi no mesmo agosto que tivemos a renúncia de Jânio Quadros, a Campanha da Legalidade do Brizola, a morte misteriosa de Juscelino Kubitschek, o início da derrubada de Collor por seu próprio irmão Pedro e a cassação do mandado da presidente Dilma Rousseff. A morte do candidato a presidente Eduardo Campos veio se somar às tragédias que marcam o mês de agosto, assim como o acidente aéreo em Vinhedo (SP), que vitimou 62 pessoas. A trágica morte da amada Princesa Diana encerrou o mês das desgraças.
Na política tivemos prisões e “tarifaços” a ameaçar a economia global. A reação americana ao desmantelamento do parque industrial do País se estende a todos os países, cobrando reciprocidade nas trocas comerciais e na taxação de produtos importados. Guerras sem fim e violação de direitos humanos, além de evidentes componentes políticos e proteção ao dólar, levaram à aplicação da Lei Magnitsky a diversas pessoas, inclusive autoridades brasileiras.
Trata-se de lei federal bipartidária aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos e sancionada pelo presidente Barack Obama com a intenção de punir autoridades russas responsáveis pela morte do advogado tributário russo Sergei Magnitsky em uma prisão de Moscou em 2009. Promulgada em 2016 como Lei Global de Responsabilidade de Direitos Humanos Magnitsky, sua estrutura original foi estendida a todo o mundo por violações de direitos humanos ou corrupção significativa, autorizando o congelamento de bens e a proibição de entrada nos EUA.
Entre denúncias e delações, violação de sigilo de dados pessoais, assalto a familiares, descontos indevidos de aposentados e CPMI do Congresso, termina o mês de agosto, iniciando-se setembro com a Semana da Pátria, ofuscada pelo julgamento político do ex-presidente Jair Bolsonaro, já inelegível.