
O Parque Assis Brasil, uma vez por ano, recebe o melhor da pecuária, do artesanato, da agricultura familiar e das grandes tecnologias de maquinário agrícola. Todos sabem disso. É a Expointer, uma magnífica feira internacional. Lembro meus dias de repórter do Campo & Lavoura de ZH e depois, nos anos seguintes, como assessor na Central de Imprensa. Nesse período, acompanhei dezenas de histórias, que aconteciam por lá. A maioria guardadas na memória de cada um, fosse expositor ou visitante. Um bom exemplo é esta, que segue abaixo.
Além do desfile da melhor genética de bovinos, equinos e tantos outros bichos, dezenas de humanos ligados à profissão mais antiga do mundo circulam por entre baias e boxes. Lembro bem dessa gente perfumada, com roupas a valorizar suas qualidades morfológicas, estimulando a imaginação de quem passaria o dia em função de julgamentos, remates, seminários e encontros de negócios.
Nesses mais de 10 anos a trabalho na Expointer, vi gurias lindas a distribuir panfletos de famosas casas noturnas e insinuando-se discretamente. Muitos não resistem. Outros apenas observavam, especialmente maridos e esposas que pretendiam voltar para casa sem culpas no cartório. Mas e o dia em que a vontade irresponsável é mais forte que a razão?
Esse foi o drama de um dos tantos personagens dessa feira, lá em 2004. Casado há 25 anos, ele dizia ser vacinado contra tentações mundanas. Estava focado em negócios, em valorização de seus produtos. Mas, inadvertidamente, exagerou no happy hour e mergulhou nos pecados da sedução, incentivado pelos amigos. De repente, quando se deu conta, estava, em um espalhafatoso quarto de motel. Luzes coloridas, filme pornô e uma deusa seminua a lhe acariciar o peito varonil.
Observava tudo apavorado, a bebedeira passara com o susto e culpa. Tentava escapar do embrulho. “Estou velho demais para isso”, cochichou para a moça. “Não é o que estou percebendo”, respondeu ela, maliciosamente. “Por favor!”, gemeu. “Não vai dar certo. Vamos acertar. Eu volto para o meu hotel e encerramos por aqui mesmo”, implorou. E ela, com a argúcia que a vida ensinara, respondeu:
“Quem chega até aqui é porque está sentindo falta de alguma emoção. E comigo não tem dor de cabeça, nem cara feia. Faça a conta de quanto você já gastou na vida para ter muito menos do que estou oferecendo”, alertou sabiamente.
No dia seguinte, andava ele cheio de culpas entre as baias do Parque Assis Brasil. Sentia-se um crápula. Um boçal. Um farsante. Secou uma garrafa de whisky com os amigos, precisava contar sua aventura, desabafar. Mas enquanto todos aguardavam por um relato cheio de detalhes picantes, caíram pasmos para trás: não acontecera absolutamente nada!
“Ela me disse tudo aquilo e meu passado voltou à tona. Pensei nos meus filhos sempre patinando na vida, pior, minha mulher, cansada das minhas contínuas ausências. Sempre me evitando. Distante. Gente, até os financiamentos bancários apareceram, um seguido do outro”, lembrou.
Aquela garota de programa oferecia uma espécie de paraíso fiscal do prazer, mas ele ficara tão deprimido que nada o faria seguir adiante. Não naquela hora. Vestiu as calças, pagou o que devia, e agradeceu por abrir-lhe os olhos. Agora sabia o que deveria fazer.
No ano seguinte, eu o encontrei em mais uma edição da Expointer. Tinha uma aparência remoçada. Me disse que colocara os filhos a cuidar dos negócios, ele gerenciando, é claro. Ainda convencera a esposa a uma separação amigável e, agora, ambos desfrutavam a vida pagando um preço justo pela liberdade, ou quase.
Toda essa revolução foi iniciada em uma feira de agronegócio que não é qualquer uma, é a Expointer, a maior entre as maiores. E que doidamente acontece em Esteio, cidade sem zona rural. Mas é de lá que saem as rosetas – ou escarapelas – aos campeões e reservados de grandes campeões. Eu já conquistei a minha. Sem sustos!