
O sentimento de desconfiança social que experimentamos não para de ganhar combustível. Desconfiança social é esta sensação generalizada de que não dá para acreditar em nada nem em ninguém.
Confiança é moeda rara entre nós. O pé atrás virou nosso passo favorito!
Apareceu mais um motivo para alarme.
Urge aumentar a cautela no consumo de bebidas alcóolicas. Não bastasse estudos monstrando que o consumo de álcool é nocivo à saúde, chegam notícias de intoxicação, sequelas e mortes ligadas a bebidas adulteradas. Além de serem desaconselhadas por si só, bebidas alcoólicas podem conter aditivos perigosos. Nos últimos dias a polícia de São Paulo vem tendo trabalho dobrado na identificação de casos de fraude no setor.
Pesquisa feita pela Euromonitor Internacional para a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas estima que uma em cada cinco garrafas de destilados está falsificada. As bebidas destiladas são o principal alvo das fraudes por duas razões. Primeiro, por que, sendo mais caras, o trambique vale mais a pena. Segundo, por que o teor maior de álcool torna mais fácil o batismo.
Há toda uma rede que atua no ramo, como vem sendo amplamente noticiado. A Polícia Civil prendeu nesta sexta-feira, 3, Ilson do Amor Divino – observe-se a ironia no nome – apontado como um dos principais fornecedores de insumos para a falsificação de bebidas no estado de São Paulo. Ele é investigado por vender garrafas, tampas, rótulos, caixas para embalagem e até selos falsificados de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que eram colados em garrafas para simular originalidade. A suspeita da polícia é de que ele manipulava mais de 10 mil garrafas por mês. Depois, repassava garrafas de bebidas como gim, vodca e uísque para locais responsáveis por realizar o envase. Uma vez prontas, as bebidas finalmente eram vendidas aos estabelecimentos.
Fornecedores de bebida ilegal pagam de R$ 10,00 a R$ 20,00 por garrafa original com tampa aos catadores de lixo. Por isso, uma boa maneira de dificultar o comércio ilegal é destruir as tampas e também as garrafas.
O caso dos destilados reforça o sentimento de que é preciso andar na defensiva. Casos de fraudes se sucedem com uma triste frequência. Quem esqueceu do escândalo da adulteração do leite, em que o Rio Grande do Sul foi destaque nacional? Chovem notícias de crimes eletrônicos e, agora também, denúncias de irregularidades na execução de obras públicas aqui na região.
E onde estão os fiscais? Alguém pode estar se perguntando.
– Há fiscais, sim, há fiscais contratados para fiscalizar. Mas a própria existência de fiscais é reveladora. A necessidade de fiscais para fiscalizar os fiscais que fiscalizam e de instâncias que controlam os fiscais… reforça a desconfiança. Fiscais infelizmente não são a panaceia. Não dá para fiscalizar todos durante as 24 horas do dia. O ideal é não precisar de fiscais. Confiança não é saber tudo. Confiança é não sentir necessidade de saber.
Pior é que o simples falar sobre a sensação de insegurança que nos aflige também aumenta a sensação de insegurança.
Então, peço desculpas por este papo.