
E aí no estacionamento do supermercado, abraçado em sacolas contendo pães integrais, frutas, verduras e um pecaminoso sorvete, enfim, compras de um gordinho cheio de culpas, se atravessa o sujeito cheios de sorrisos e asquerosa simpatia. Aquela típica dos leitores de autoajuda. Praticamente me obrigou a largar tudo no chão para segurar seu folder. Ele vendia uma, entre centenas, de marcas dos tais diet shake.
“Estás me chamando de gordo?”. Sem jeito, ele responde que só oferecia um complemento alimentar saudável que, inclusive, ajudava a emagrecer. De forma alguma pretendia ofender. “Então por que nesse imenso e lotado estacionamento tu me achou?”
Enquanto ele pensava em uma resposta técnica e pacificadora entre proteínas, fibras, vitaminas e minerais essenciais, pedi licença, abri o porta-malas, guardei as sacolas e dei um tapinha fraterno nas costas do moço:
“Amigão, não me ofendi, estou brincando contigo. Gordo não se irrita com isso. Mas da próxima vez, só coloca tua propagando no para-brisas”, aconselhei. Deixa eu aceitar, sozinho, minha obesidade.”
Sai feliz com a cara desconcertada que deixei para trás. E mais decidido, é claro, a perder alguns quilinhos. E o sorvete na sacola? Pô! Era sábado. Eu estava tenso! E os finais de semana são liberados. Todo mundo sabe que uma boa e eficaz dieta começa, sempre, nas segundas-feiras.